EUA pedem a grupo jihadista para evitar seguir exemplo de talibãs afegãos

Os Estados Unidos alertaram hoje o grupo jihadista Hayat Tahrir al Sham (HTS), que liderou a ofensiva que derrubou o regime de Bashar al-Assad, na Síria, para aprender a "lição" de isolamento a que os talibãs afegãos.

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© Michael M. Santiago/Getty Images

Lusa
19/12/2024 12:40 ‧ há 3 horas por Lusa

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O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, lembrou que os talibãs, após terem tomado o poder no Afeganistão em agosto de 2021, ficaram internacionalmente isolados depois de aplicarem medidas extremistas contra a sociedade, sobretudo em relação às mulheres, e pela limitação de direitos.

 

Blinken, que confirmou durante um evento organizado pelo 'think tank' Council of Foreign Relations que Washington está em contacto com o HTS e com outros grupos na Síria, sublinhou que a formação "deve ter em conta" a situação das autoridades impostas pelos talibãs. 

"Há uma lição a tirar. Os talibãs projetaram uma face mais moderada, ou pelo menos tentaram fazê-lo, quando assumiram o controlo do Afeganistão. Mas, depois, foi possível ver a sua verdadeira face. O resultado é que continuam terrivelmente isolados em todo o mundo", afirmou.

"Se somos um grupo emergente na Síria, não queremos esse tipo de isolamento, por isso há certas coisas que temos de fazer para avançar o país e garantir que o fazemos de forma inclusiva e não sectária, protegendo as minorias e enfrentando os desafios de segurança, quer se trate de armas químicas ou de grupos como o Estado Islâmico", acrescentou Blinken.

O chefe da diplomacia norte-americana sublinhou ainda que o HTS também pode "ter em conta as lições" retiradas do regime de al-Assad, incluindo a sua "recusa total em envolver-se em qualquer tipo de processo político, algo que foi uma das coisas que selou a sua queda". 

"Têm de refletir sobre isso. O que estamos a tentar fazer agora é garantir, tal como muitos outros países, que esta posição unificada e estas considerações estejam na mente do HTS e de outros que surjam [no poder] na Síria", defendeu Blinken, que considerou que 'há um caminho a seguir num país que está fragmentado'.

"O que acontece na Síria não fica necessariamente na Síria, quer se trate de permitir que o país se torne uma base para a exportação do terrorismo ou de deslocações maciças da população que tenham um impacto para além da Síria, isso já é algo que realmente importa", alertou Blinken.

O secretário de Estado norte-americano referiu ainda que é necessário impedir o ressurgimento do grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e defendeu que "um dos sucessos do [antigo] Presidente [Donald) Trump durante o primeiro mandato foi completar efetivamente o trabalho iniciado pela administração de (o ex-Presidente Barack) Obama na eliminação do califado territorial que o Estado Islâmico estava a tentar estabelecer"

"O último prego no caixão foi a reconquista de Raqqa, que aconteceu sob o comando de Trump. Por isso penso que Trump terá um forte incentivo para garantir que impedimos o ressurgimento do Estado Islâmico na Síria", disse Blinken.

Assim, insistiu que "a forma mais eficaz de o fazer" é "manter as forças necessárias para tal", "ter parceiros capazes", numa referência às Forças Democráticas Sírias (SDF), e "tentar apoiar o país no processo de construção de uma nova e melhor Síria".

"É muito difícil, mas pelo menos existe uma oportunidade que penso que nenhum de nós esperava. O que vimos antes da fuga de al-Assad foi a maioria das pessoas a correr para Damasco para tentar restabelecer relações com al-Assad, pensando que não iria dar em nada. Isso provou ser um erro", afirmou.

As novas autoridades sírias, lideradas por Mohamed al-Bashir como primeiro-ministro interino, manifestaram o desejo de estabelecer boas relações com a comunidade internacional e afirmaram que irão proteger os direitos de todas as pessoas, incluindo as minorias, apesar dos receios de uma tendência fundamentalista.

A ofensiva na Síria, lançada a 27 de novembro a partir da província de Idlib, permitiu aos jihadistas e aos rebeldes tomar a capital, Damasco, e pôr fim ao regime da família al-Assad, no poder desde 1971 - primeiro com Hafez al-Assad (1971-2000) e depois com o seu filho, Bashar - face a uma retirada constante das tropas governamentais, apoiadas pela Rússia e pelo Irão.

Leia Também: Conselho de Segurança da ONU renova exceção a sanções impostas ao EI

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