O copresidente do DEM, Tuncer Bakirhan, disse esperar que este encontro com Ocalan abra "uma nova era" para uma solução democrática do chamado "problema curdo" na Turquia.
A delegação do partido DEM foi composta por dois deputados, Sirri Sureyya Onder e Pervin Buldan, que partiram de manhã para a ilha de Imrali, no Mar de Mármara, onde o líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) está detido desde 1999.
Esta é a primeira visita do partido a Ocalan em quase dez anos. O antecessor do DEM, o partido HDP, viu-o pela última vez em abril de 2015.
Esta viagem surge um dia depois do Governo turco ter respondido positivamente ao pedido do DEM (Partido para a Igualdade e Democracia Popular) no sentido de visitar Ocalan, 75 anos, na cadeia.
O PKK, uma organização separatista curda, é classificado como terrorista pela Turquia, bem como pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pelo Reino Unido.
"Enquanto falo aqui, a nossa delegação está atualmente a reunir-se com o Sr. Abdullah Ocalan [na ilha] Imrali. Pensamos que isto é importante", comentou o copresidente do DEM, Tuncer Bakirhan, aos jornalistas no distrito de Uludere, perto da fronteira com o Iraque.
Bakirhan participava numa cerimónia que assinalava o aniversário da morte de 34 civis num ataque turco em 2011, que mais tarde foi chamado de "massacre de Uludere ou Roboski".
"A porta de Imrali deve estar destrancada", defendeu Bakirhan, acrescentando: "Espero que as discussões que terão lugar permitam resolver a questão curda por meios democráticos e numa base democrática."
O DEM indicou que divulgará um comunicado no domingo sobre o conteúdo das conversações.
Abdullah Ocalan, fundador do PKK e detido durante 25 anos na ilha-prisão turca de Imrali, foi preso em 1999 durante uma operação levada a cabo pelas forças de segurança turcas no Quénia, após anos de fuga, e condenado à morte.
Escapou da pena capital (enforcamento) quando a Turquia aboliu a pena de morte em 2004 e desde então cumpre pena de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.
A visita de hoje tornou-se possível após o líder do partido ultranacionalista MHP, Devlet Bahceli, um político nacionalista ferozmente hostil ao PKK e aliado do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter convidado Abdullah Ocalan a depor no parlamento para renunciar ao terrorismo e dissolver o seu grupo.
Este apelo constitui uma "janela de oportunidade histórica", segundo o Presidente Erdogan.
Pouco depois do apelo de Bahceli, Abdullah Ocalan foi autorizado a visitar a sua família pela primeira vez desde março de 2020, o que levou o DEM a apresentar o seu próprio pedido ao Ministério da Justiça.
Mais tarde, militantes do PKK assumiram a responsabilidade por um ataque em outubro a uma empresa de defesa turca que fez cinco mortos, o que atrasou a aprovação governamental do pedido do DEM.
Durante vários anos, Abdullah Ocalan esteve envolvido em negociações com as autoridades, quando Erdogan, então primeiro-ministro, pediu uma solução para o "problema curdo" da Turquia.
O processo de paz e a trégua falharam em 2015, desencadeando um reinício da violência, sobretudo no sudeste do país, de maioria curda.
Esta nova aproximação do Governo de Ancara aos curdos surge no seguimento do derrube, na vizinha Síria, do Presidente Bashar al-Assad por uma aliança de grupos rebeldes, em 08 de dezembro.
A Turquia visa regularmente os combatentes curdos no norte da Síria e no Iraque e o chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan, sublinhou hoje, durante uma conversa telefónica com o seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, que as Forças Democráticas Sírias (FDS) não poderiam ser toleradas.
A Turquia, muito próxima das novas autoridades instaladas em Damasco, considera as FDS como uma extensão do PKK.
Leia Também: Governo autoriza opositores pró-curdos a visitar fundador do PKK na prisão