Uma cartoonista do Washington Post demitiu-se, na sexta-feira, depois de o jornal rejeitar um desenho em que era caricaturado Jeff Bezos, multimilionário e dono da publicação.
Num comunicado publicado na plataforma Substack, Ann Telnaes explica que a rejeição dos seus cartoons foi o "ponto de viragem", que se torna "perigoso para a liberdade de imprensa".
Talnaes, que já ganhou um Pulitzer, galardão que premeia trabalhos de excelência no jornalismo, trabalhava para o Washinton Post desde 2008. "Durante todo esse tempo, nunca tive um desenho 'morto' por causa de quem seja ou do que escolhi para apontar a minha caneta", escreveu, apontando: "Até agora."
A cartoonista incluiu o desenho em questão na sua publicação, que mostra Bezos a fazer uma vénia para uma estátua do presidente-eleito Donald Trump. Para além de Bezos, que é também o fundador da Amazon, são retratados também outros magnatas da tecnologia, como o fundador da Meta, Mark Zuckerberg, o CEO da OpenAI, Sam Altman. Também Patrick Soon-Shiong, dono da publicação The Los Angeles Times está no cartoon, assim como Mickey Mouse, a mascote da Disney.
Ann Telnaes, who has worked at The Washington Post as an editorial cartoonist since 2008, says her cartoon below was killed — and now she has quit the paper pic.twitter.com/ThHbQiATOS
— philip lewis (@Phil_Lewis_) January 4, 2025
No desenho, Bezos aparece à semelhança de outros empresários com um saco com dinheiro.
David Shipley, editor da publicação The Post, como o jornal é reconhecido também, emitiu um comunicado a explicar que respeitava o trabalho da cartoonista e tudo aquilo que esta tinha feito, apontando, no entanto, que "discordava da interpretação da mesma" e que, por isso, tinha rejeitado o trabalho.
"Nem todas as decisões editoriais são o reflexo de uma força maligna”, afirmou Shipley no comunicado, justificando: "A minha decisão foi orientada pelo facto de termos acabado de publicar uma coluna sobre o mesmo tema da caricatura e de já termos agendada a publicação de outra coluna - esta uma sátira. O único preconceito era contra a repetição".
O editor explicou ainda que quis falar com Talnaes na sexta-feira e que lhe pediu para reconsiderar a demissão, pedindo-lhe que considerasse durante o fim de semana. O New York Times contactou a cartoonista sobre a situação, que ainda não respondeu.
O Times escreve ainda que um colega de Telnaes, também premiado com um Pulitzer, considerou que a decisão de não publicar o trabalho "não tinha caráter e acrescentou que o famoso cartoonista do Post, Herbert Block, conhecido como Herblock, e Ben Bradlee, antigo editor do Post, estavam "a girar, a espernear e a gritar nos seus túmulos".
Para além do Pulitzer, que ganhou em 2001 quando trabalhava para a publicação Los Angeles Times, Talnaes arrecadou também o Prémio Reuben da Sociedade Nacional de Humoristas, em 2017, tornando-se assim a primeira mulher a ganhar ambos os prémios.
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