O gabinete de Karim Khan informou que a visita decorreu a convite do governo de transição da Síria, tendo decorrido uma reunião com Ahmed Hussein al-Charaa, o líder 'de facto' da nova administração síria, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Em cima da mesa estiveram as opções de justiça em Haia para as vítimas da guerra civil do país, que causou mais de meio milhão de mortos e mais de seis milhões de deslocados.
Ahmed Hussein al-Charaa é um antigo militante da Al-Qaida que cortou os laços com o grupo extremista há anos e que chefia o grupo 'jihadista' Hayat Tahrir al Sham (HTS), atualmente no poder na Síria e que liderou a ofensiva relâmpago, em dezembro, que derrubou o regime com mais de duas décadas de Bashar al-Assad, que fugiu para a Rússia.
Os grupos de defesa dos direitos humanos estimam que pelo menos 150 mil pessoas desapareceram após o início dos protestos contra o regime de Damasco em 2011 - ano em que começou a guerra civil síria -, a maioria das quais na rede de prisões de Assad.
Muitas destas pessoas foram mortas, quer em execuções em massa, quer devido a atos de tortura e às condições de detenção, permanecendo desconhecido o número exato.
Há informações sobre ataques com gás cloro e outras substâncias proibidas contra civis, além de acusações de violações dos direitos humanos e de crimes de guerra durante a guerra civil.
As novas autoridades apelaram a que os membros do regime de Assad fossem levados a tribunal, sem existir, até ao momento, detalhes sobre esses eventuais processos.
A Síria não integra o TPI, o que deixa a instância internacional sem capacidade para investigar os acontecimentos que decorreram ao longo da guerra.
Em 2014, a Rússia e a China bloquearam um pedido do Conselho de Segurança das Nações Unidas que teria dado jurisdição ao tribunal. O Sudão e a Líbia foram objeto de pedidos semelhantes.
A visita de Khan ocorre depois de uma deslocação a Damasco, no mês passado, da estrutura das Nações Unidas que ajuda a investigar os crimes mais graves na Síria.
O Mecanismo Internacional, Imparcial e Independente para a Síria foi criado para ajudar na recolha de provas e no julgamento de indivíduos responsáveis por possíveis crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio desde o início da guerra civil na Síria em 2011.
O diretor do grupo, Robert Petit, sublinhou na altura a urgência de preservar documentos e outras provas antes que se percam.
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