De acordo com os registos paralelos do Observatório Cubano dos Direitos Humanos (OCDH), Prisoners Defenders e Justice 11J, desde quarta-feira foram libertados entre 40 e 50 presos considerados políticos, numa onda de libertações que está a ser efetuada na sequência da decisão de Washington de retirar a ilha da lista de patrocinadores do terrorismo.
No entanto, o governo cubano informou que, até à data, libertou 127 dos 553 presos que se comprometeu publicamente a retirar da prisão.
"Esta tendência é extremamente preocupante e pode mesmo violar os acordos com o Vaticano, embora se desconheça a formulação exata do que Havana acordou ou prometeu, podemos assumir que a principal preocupação do Papa Francisco é a libertação de pessoas presas por exercerem os seus direitos humanos", afirmou o OCDH em comunicado.
A Justiça 11J, por seu lado, criticou a "falta de transparência" do processo e exigiu que o Supremo Tribunal Popular de Cuba publique todas as pessoas que beneficiaram desta libertação e as respetivas penas.
Cuba anunciou na terça-feira a sua intenção de libertar 553 prisioneiros, algo que Washington associou pouco antes a um acordo mediado pelo Vaticano que incluía a retirada da ilha da lista norte-americana de patrocinadores do terrorismo, uma medida com graves consequências financeiras.
As autoridades da ilha indicaram que os beneficiários eram reclusos condenados por vários crimes, incluindo sedição, um dos mais comummente aplicados aos manifestantes da explosão social de 11 de julho de 2021 (11J), o maior protesto antigovernamental em Cuba em décadas.
O governo cubano não reconhece a existência de presos políticos nas suas prisões e tem afirmado repetidamente que os condenados cometeram crimes de vandalismo e desordem.
A Prisoners Defenders registou um total de 1.161 presos políticos nas prisões cubanas no final de 2024.
Estima-se que pouco menos de metade dos detidos estejam relacionados com manifestações.
A última vez que foram libertados prisioneiros em Cuba foi em 2015, quando um total de 3.522 pessoas foram libertados como "gesto humanitário" antes da visita do Papa Francisco.
A decisão de Havana foi anunciada pouco depois de o Presidente dos Estados Unidos cessante, Joe Biden, ter indicado que Cuba iria deixar a lista de países que patrocinam o terrorismo, na qual estava incluída por uma decisão tomada em 2017, durante o primeiro mandato do republicano Donald Trump, que regressará à Casa Branca a 20 de janeiro.
Um prisioneiros já libertados por Havana foi Daniel Ferrer, líder da oposição cubana.
O dissidente, líder da União Patriótica de Cuba (Unpacu), estava na prisão desde 11 de julho de 2021, quando foi detido ao tentar juntar-se aos protestos antigovernamentais desse dia, os maiores em décadas na ilha.
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