O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto assinala-se esta segunda-feira, e, 80 anos depois da libertação de Auschwitz, há histórias que continuam a ser contadas.
É o caso de Simon Gronowski, que contou à Sky News como é que escapou do campo de concentração - e como perdeu quase toda a família lá.
Gronowski contou que a sua família tinha um plano para fugir caso a Gestapo os procurasse, mas que numa manhã de março de 1943 foi surpreendida quando lhes bateram à porta.
Gronowski e a sua família tinham mudado de casa seis meses antes, mas, ainda assim, a Gestapo conseguiu localizar esta família judaica em Bruxelas, na Bélgica.
A mãe de Simon, Chana, abriu a porta à Gestapo, que lhe pediu os documentos e, depois da verificação, lhes pediu para arrumarem o que tinham e para irem com eles. "O mais pequeno também?", questionou Chana, referindo-se a Simon, na altura com 11 anos.
A resposta foi afirmativa, e a Gestapo só não levou a irmã de Simon, Ita, porque não estava na lista nesse dia - e o pai, que estava no hospital. Simon e Chana seguiram para umas instalações na cidade vizinha de Mechelen, antes de entrarem no comboio que os iria levar a câmaras de gás.
"Auschwitz nunca foi mencionado. Os nazis disseram-nos que os judeus tinham de ir trabalhar em campos", explicou Simon.
A criança seguiu com a mãe num vagão cheio de judeus, mas, durante a viagem, o comboio, que levava cerca de 1.600 pessoas, foi parado pelo movimento de resistência belga. Entre trocas de tiros, o comboio parou, mas depois voltou a seguir caminho. O vagão onde Chana, Simon e quase 50 pessoas seguiam ficou, no entanto, com um defeito na porta depois da troca de tiros.
"Não sabia que tinha sido condenado à morte e que este comboio que me ia levar até à minha execução", recordou Simon à Sky News.
Durante o ataque da resistência belga, os combatentes conseguiram retirar algumas pessoas, mas não chegaram até ao vagão onde os dois seguiam. Quando o comboio voltou a andar, a porta acabou por se soltar, fruto do combate com os combatentes. As pessoas do vagão começaram a sair e Chama disse a Simon para descer. Enquanto este o fazia, os soldados entraram no vagão e conseguiram travar a mãe.
"Saltei do comboio para obedecer à minha mãe. Se ela me tivesse dito para ficar, nunca teria saído do lado dela e teria morrido com ela na câmara de gás", apontou Simon, acrescentando: "Eu adorava a minha mãe. Ela sacrificou-se para garantir a minha fuga".
A minha mãe deu-me a vida duas vezes: Quando eu nasci e no dia em que fugi
Assustado e sozinho, a criança correu pela sua vida e passou a noite na floresta antes de uma família o ter acolhido. Simon conseguiu encontrar o pai, Leon, que depois de sair do hospital acabou por se esconder com uns amigos.
Segundo a Sky News, três dias depois, a mãe de Simon morreu nas câmaras de gás de Auschwitz. Seis meses depois, Ita morreu no mesmo sítio.
"A minha mãe deu-me a vida duas vezes: Quando eu nasci e no dia em que fugi. Quero que as pessoas saibam da crueldade de ontem, para que possam ajudar a defender a nossa democracia hoje", referiu Simon à Sky News, numa referência ao antissemitismo que tem vindo a crescer e a ser denunciado em vários países.
Simon perdeu o pai em 1945, depois de este saber que a mulher e a filha tinham morrido no campo de concentração. Aos 14 anos, Simon arrendou a casa dos pais e foi assim que conseguiu pagar os estudos, tornando-se advogado. Toca piano e é apaixonado por jazz, um gosto que a irmã lhe incutiu.
Atualmente com 93 anos, foi dando várias testemunhos sobre o Holocausto em todo o mundo, com o objetivo de informar e alertar o maior número possível de pessoas para as consequências do ódio generalizado.
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