"Os nossos vistos expiraram hoje, por isso saímos todos. Estamos a protestar", explicou o porta-voz da UNRWA, Jonathan Fowler.
Sem os vistos, os trabalhadores internacionais da organização foram obrigados a deixar Israel e muitos deles foram transferidos para Amã, na Jordânia.
Vários radicais israelitas, liderados pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Jerusalém, Arieh King, deverão reunir-se na quinta-feira em frente à sede da UNRWA, situada no bairro de Sheikh Jarrah, para "celebrar" o encerramento das instalações da organização humanitária.
"Preparem os vossos fatos, o dia do ajuste de contas com a UNRWA chegou e amanhã [quinta-feira] esta organização nazi hostil vai-se tornar num alvo da polícia e do município de Jerusalém", escreveu King na rede social X, apelando a um 'brinde' em frente ao complexo às 11h00 locais (9h00 em Lisboa).
O Knesset (parlamento israelita) aprovou duas leis que limitam o trabalho da UNRWA, considerada em várias ocasiões pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, como a "espinha dorsal" da resposta humanitária na Faixa de Gaza.
Uma parte da legislação, que entra em vigor a 30 de janeiro, proíbe as autoridades israelitas de ter contacto com a UNRWA ou qualquer intermediário.
Esta "política de não contacto" impede a concessão de vistos e de cartões diplomáticos aos trabalhadores da organização, bem como a coordenação em conjunto com o exército israelita sobre a passagem de pessoal nos postos de controlo e o acesso de mercadorias à Cisjordânia ocupada e a Gaza.
A outra parte da legislação diz que a UNRWA "não deve operar nenhum escritório de representação, fornecer quaisquer serviços ou realizar quaisquer atividades, direta ou indiretamente, dentro do território soberano do Estado de Israel", com Telavive a incluir o território de Jerusalém Leste, o qual ocupa desde 1967 e onde está sediado o escritório de campo da UNRWA na Cisjordânia.
A aprovação das leis surge após Israel ter acusado uma dúzia dos 33.000 funcionários da UNRWA de estarem envolvidos nos ataques de 07 de outubro de 2023 do movimento islamita palestiniano Hamas.
A sede da UNRWA em Jerusalém Leste já albergava apenas uma centena de trabalhadores, uma vez que Israel não deu a autorização necessária a 400 funcionários palestinianos para atravessar os postos de controlo militar entre a cidade e os seus locais de residência na Cisjordânia ocupada.
Israel e o Hamas envolveram-se numa guerra em outubro de 2023, na sequência de um ataque sem precedentes do grupo extremista palestiniano no sul do território israelita que fez cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns. Em represália, Israel lançou uma ofensiva devastadora na Faixa de Gaza, matando mais de 47 mil pessoas.
Desde o início da guerra, a UNRWA foi responsável pela entrega de dois terços de toda a assistência alimentar ao enclave palestiniano, forneceu abrigo a mais de um milhão de pessoas deslocadas e vacinou um quarto de milhão de crianças contra a poliomielite, segundo o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini.
A UNRWA foi criada na sequência da resolução 302(IV), aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 1949 - com o apoio de Israel -, com o objetivo de implementar programas de ajuda aos refugiados palestinianos na sequência da criação do Estado de Israel, até ser encontrada uma solução para o conflito.
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