Na audição de confirmação perante o Comité Judiciário do Senado (câmara alta do Congresso norte-americano), Kash Patel, de 44 anos, retratou-se como a escolha certa para liderar o FBI, uma agência que acredita que perdeu a confiança do público, e comprometeu-se com o "devido processo e transparência", se for confirmado como diretor.
Patel comprometeu-se em apenas iniciar investigações com "uma base jurídica factual e articulável", assegurando que "nunca faria algo inconstitucional ou ilegal" e que "sempre obedecerá à lei".
"Há crimes violentos e ameaças à segurança nacional suficientes neste país para que o FBI esteja ocupado a prevenir 100.000 overdoses, 100.000 violações e 17.000 homicídios", respondeu Kash Patel quando questionado se moveria um processo contra o ex-diretor do FBI Chris Wray, após duras críticas feitas por Trump.
"Não haverá ações retributivas tomadas pelo FBI, caso eu seja confirmado como diretor", acrescentou.
Contudo, durante a sessão, os senadores democratas mostraram-se profundamente céticos sobre a capacidade de independência de Patel tendo em conta a lealdade manifestada a Donald Trump e as "teorias da conspiração" que difundiu no passado.
O senador Richard Durbin, o principal democrata no Comité Judiciário, afirmou que Patel movimenta-se "em teorias de conspiração desmascaradas" e expressou preocupação com as suas declarações anteriores sobre o "Estado Profundo", avaliando que Patel "não atende aos padrões" para liderar o FBI.
A senadora democrata Amy Klobuchar passou vários minutos a ler algumas declarações públicas feitas por Kash Patel, desde a sua proposta de fechar a sede do FBI e transformá-la num museu para o "Estado profundo" até à integridade da eleição de 2020, passando pela pandemia de covid-19 e críticas aos supostos inimigos de Trump.
Patel considerou que a senadora estava a fazer uma caracterização "grotesca" e afirmou não se lembrar de ter feito alguns desses comentários.
Antes de ser nomeado para liderar o FBI, Patel criticou a agência pelas suas investigações a Donald Trump e alegou que os invasores do Capitólio foram maltratados pelo Departamento de Justiça.
Trump atacou repetidamente o FBI por conduzir a busca autorizada por um tribunal na sua mansão em Mar-a-Lago, em agosto de 2022, e recuperar mais de 100 documentos confidenciais.
Durante a audição de hoje, Patel recusou responder diretamente a uma pergunta sobre se Donald Trump tinha perdido a eleição de 2020 - a qual o magnata republicano afirma falsamente que lhe foi roubada.
Ex-assessor do Comité de Inteligência da Câmara dos Representante e ex-procurador federal durante a primeira administração de Trump, Kash Patel alarmou os críticos com as suas dezenas de declarações em 'podcasts' e livros, nas quais demonstrou lealdade a Trump e atacou a tomada de decisões da agência que agora foi convidado a liderar.
Também identificou pelo nome as autoridades que acredita que deveriam ser investigadas.
Patel chegou a integrar um pequeno grupo de apoiantes de Trump que marcou presença no recente julgamento criminal do magnata republicano em Nova Iorque e disse aos jornalistas que o atual chefe de Estado era vítima de um "circo inconstitucional".
Esse vínculo estreito entre Trump e Patel romperia com o precedente moderno de diretores do FBI manterem-se distantes dos chefes de Estado.
Porém, aliados republicanos de Trump, que compartilham a crença de que o FBI se tornou numa agência politizada, defenderam Patel e prometeram apoiar a sua confirmação, vendo-o como uma figura que poderá promover as mudanças necessárias na agência.
O senador republicano Chuck Grassley, presidente do Comité Judiciário, tentou neutralizar os ataques a Patel preventivamente, concentrando-se na necessidade de reformar o FBI que, na sua visão, tornou-se numa arma política.
Nos últimos anos, o FBI envolveu-se em inúmeras investigações com grande repercussão política incluindo não apenas os dois inquéritos federais sobre Trump que resultaram em acusações, mas também investigações ao agora ex-presidente Joe Biden e ao seu filho, Hunter Biden.
"Não é nenhuma surpresa que a confiança pública tenha diminuído numa instituição que tem sido atormentada por abusos, falta de transparência e na transformação da aplicação da lei numa arma", disse Grassley.
"No entanto, o FBI continua a ser uma instituição importante, até mesmo indispensável, para a lei e a ordem no nosso país", acrescentou o senador na audição.
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