"Quando o Presidente [dos Estados Unidos] fala em 'limpeza', está a falar em tornar [Gaza] habitável", disse aos jornalistas, pouco antes da reunião prevista para hoje na Casa Branca, em Washington, dos líderes norte-americano, Donald Trump, e israelita, Benjamin Netanyahu.
Para Witkoff, "é injusto explicar aos palestinianos que poderiam regressar dentro de cinco anos" ao território devastado por mais de 15 meses de guerra entre Israel e o grupo islamita Hamas.
"É simplesmente grotesco", prosseguiu, referindo-se ao prazo que disse estar previsto para a reconstrução da Faixa de Gaza no acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, cuja primeira fase entrou em vigor em 19 de janeiro.
Donald Trump sugeriu anteriormente a ideia de "simplesmente limpar" o território palestiniano e transferir os seus habitantes para locais "mais seguros", como os vizinhos Egito ou a Jordânia, que já recusaram.
"Há 30 mil munições não detonadas. Os edifícios podem ruir a qualquer momento. Não há serviços públicos, nem água, nem eletricidade, nem gás, nada. Sabe Deus que tipo de doença se está a formar ali", descreveu Steve Witkoff.
Nas suas declarações, o enviado de Trump reforçou que "é fisicamente impossível" cumprir um programa de cinco anos para a reconstrução da Faixa de Gaza, conforme disse constar na terceira fase do acordo de cessar-fogo.
Fontes da Casa Branca citadas pela agência espanhola EFE referiram que Trump acredita que a Faixa de Gaza continuará a ser um "campo de demolição" durante os próximos 10 a 15 anos.
"O Presidente Trump vê a Faixa de Gaza como um campo de demolição. Acha irreal que possa ser reconstruída num período de três a cinco anos. Acredita que levará pelo menos 10 a 15 anos e que é desumano obrigar as pessoas a viver num território inabitável cheio de escombros e munições não detonadas", relatou uma das fontes.
Esta é a primeira viagem de Netanyahu para fora de Israel desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de captura em novembro para o chefe do Governo israelita, o seu ex-ministro da Defesa e o antigo líder militar do Hamas, acusando-os de crimes contra a humanidade durante a guerra na Faixa de Gaza.
Os Estados Unidos não reconhecem a autoridade do TPI sobre os seus cidadãos ou território e Netanyahu será o primeiro líder estrangeiro recebido por Trump na Casa Branca desde a sua posse em 20 de janeiro.
Antes da reunião, Netanyahu discutiu a próxima fase do cessar-fogo com o enviado do Presidente dos Estados Unidos, país mediador das conversações com o Hamas.
O líder israelita indicou que enviará uma delegação ao Qatar para continuar as negociações indiretas com o grupo palestiniano, e que vai convocar o Gabinete de Segurança para discutir as exigências de Israel para a próxima fase do cessar-fogo quando regressar ao seu país no final da semana.
Negociado durante meses, a primeira fase do acordo de cessar-fogo dura seis semanas e deverá permitir a libertação de 33 reféns em troca de mais de 1.900 palestinianos detidos por Israel e o reforço da ajuda humanitária ao território.
A segunda fase tem como objetivo a libertação dos últimos reféns e o fim definitivo das hostilidades.
Uma terceira fase, ainda incerta, deverá definir os termos da reconstrução da Faixa de Gaza e da sua governação no futuro.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do Hamas em Israel em 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala, que provocou mais de 47 mil mortos, na maioria civis, e a destruição da maioria das infraestruturas do enclave, segundo as autoridades locais, controladas pelo Hamas desde 2007.
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