Trump quer controlar Gaza, mas há cinco obstáculos que o impedem. Quais?

O projeto do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de controlar a Faixa de Gaza e de deslocar os habitantes palestinianos é uma fantasia irrealizável, dada a avalanche de oposições que lhe são opostas, analisa hoje a AFP.

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Lusa
05/02/2025 16:09 ‧ há 2 horas por Lusa

Mundo

Médio Oriente

As declarações fazem lembrar outras ideias avançadas por Trump: anexar o Canal do Panamá e a Gronelândia, fazer do Canadá o 51.º Estado do país ou enviar "criminosos endurecidos" norte-americanos para El Salvador.

 

Tal como as outras, as propostas deparam-se com uma multiplicidade de obstáculos.

Raízes palestinianas em Gaza

Este projeto ignora o apego dos palestinianos à sua terra, como o demonstra o regresso ao norte da Faixa de Gaza, imediatamente após o cessar-fogo, de meio milhão de pessoas deslocadas pela guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas.

E isto apesar do facto de a zona ter sido reduzida a pó. 

"Este é o melhor dia da minha vida", disse Lamiss al-Iwady, de 22 anos, à agência noticiosa France-Presse (AFP), a 28 de janeiro passado, quando regressou a casa. "Vamos reconstruir as nossas casas, mesmo que seja com lama e areia", acrescentou.

Na terça-feira, o embaixador palestiniano nas Nações Unidas, Riyad Mansour, afirmou: "A nossa pátria é a nossa pátria". E apanhou Donald Trump na sua própria armadilha: "Deixem [os palestinianos] regressar às suas casas originais em Israel, há lá lugares bonitos".

Embaixador pede

Embaixador pede "respeito" por vontade dos palestinianos de viver em Gaza

Líderes mundiais devem respeitar o desejo dos palestinianos de permanecer em Gaza, defendeu na terça-feira o enviado da Palestina à ONU, após o Presidente norte-americano sugerir que os residentes do enclave sejam reinstalados em outro lugar "permanentemente".

Lusa | 06:33 - 05/02/2025

Oposição dos países árabes

Ao contrário do que Donald Trump afirma, os Estados árabes opõem-se ao projeto. No sábado, Egito, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Qatar rejeitaram qualquer "ataque aos direitos inalienáveis" dos palestinianos.

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, deslocou-se hoje à Jordânia para se encontrar com o rei Abdullah II, um sinal de verdadeira preocupação. É de esperar o mesmo clamor público.

"Espera-se que as reações passem da confusão à indignação, incluindo manifestações em todo o Médio Oriente e não só, nos próximos dias", avisou Emily Harding, do CSIS, um grupo de reflexão de Washington.

Governo palestiniano aprova grupo para gerir a administração de Gaza

Governo palestiniano aprova grupo para gerir a administração de Gaza

O Governo palestiniano aprovou hoje a criação de um grupo de trabalho que vai supervisionar a administração da Faixa de Gaza, no âmbito do acordo de cessar-fogo assinado entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas.

Lusa | 20:39 - 04/02/2025

História norte-americana

O plano de Donald Trump implicaria o envio de soldados norte-americanos para Gaza. Um primeiro desvio das suas promessas de campanha.

A oposição feroz do Hamas é um dado adquirido. Embora enfraquecido por 15 meses de guerra, o movimento islamita palestiniano não foi de modo algum erradicado, contrariamente ao objetivo fixado pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

Com o seu aliado, a Jihad Islâmica, podem travar uma violenta guerra de guerrilha contra a qual nenhuma potência conseguiu vencer desde a Segunda Guerra Mundial.

E os atoleiros históricos em que os Estados Unidos se afundaram no Vietname, no Afeganistão e no Iraque permanecem enraizados na memória dos norte-americanos.

"É contraditório com a sua ideia de 'América primeiro'", observa um diplomata europeu em Jerusalém.

"Mas [Trump] diz a si próprio que vai correr bem, que não é uma guerra, nem no Afeganistão, nem no Iraque. Pensa sinceramente que os vai convencer [...]. É isso que é preocupante", acrescentou o mesmo diplomata.

Direito internacional

Donald Trump está a quebrar os tabus do Direito internacional herdados do pós-guerra, que Washington defendia, pelo menos na retórica.

Os Estados Unidos só poderiam assumir o controlo de Gaza com o consentimento de Israel, que "não pode ceder Gaza aos Estados Unidos", observa Tamer Morris, especialista em Direito internacional da Universidade de Sydney, na Austrália.

Mesmo a Autoridade Palestiniana "não pode dar esse consentimento em nome de um povo" que tem "o direito à autodeterminação", acrescenta no site The Conversation.

Mas, na opinião de Morris, o discurso é, por si só, perigoso. "A forma casual como Trump fala de coisas como tomar o controlo do território e deslocar pessoas dá a impressão de que estas regras podem ser facilmente quebradas".

Tal como salientou hoje a ONU, o Direito internacional proíbe qualquer transferência forçada ou expulsão de pessoas de um território ocupado.

Plano de Trump para Gaza ilegal e

Plano de Trump para Gaza ilegal e "completamente absurdo"

A relatora especial da ONU para os Territórios Palestinianos, Francesca Albanese, considerou hoje ilegal e "completamente absurdo" o plano do Presidente norte-americano, Donald Trump, para ocupar a Faixa de Gaza e deslocar a sua população.

Lusa | 13:43 - 05/02/2025

Cautela em Israel 

Hoje, a classe política israelita manteve-se cautelosa, com exceção dos apoiantes de Netanyahu. "A extrema-direita está em êxtase, jubilosa", disse David Khalfa, autor do livro 'Israel-Palestina: Ano Zero'.

"Os elementos mais moderados do parlamento estão a felicitar Trump, mas expressam dúvidas sobre a viabilidade do seu plano", observa. O líder da oposição, Yair Lapid, disse "essencialmente que os israelitas não podem esperar que os norte-americanos apresentem planos para acabar com a crise".

Isto significa que Lapid "acredita que o plano de Trump é irrealista e até contraproducente", segundo o investigador.

"Trump é fundamentalmente um empresário", conclui, colocando a hipótese de que está a tentar "juntar todos os atores da região, para sair do confronto israelo-palestiniano, que está condenado a repetir a mesma tragédia".

Leia Também: PCP pede que Governo condene declarações de Trump sobre Gaza

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