"As hipóteses de eles recuperarem as armas nucleares são praticamente nulas. Sejamos honestos, sabemos que isso não vai acontecer", disse o enviado especial do Presidente dos Estados Unidos para a Ucrânia, Keith Kellogg, numa entrevista à Fox News, em que recorreu ao "bom senso" da administração de Donald Trump para recusar esta nova exigência de Zelensky.
Kellogg avançou que, na próxima semana, vai viajar para a Europa para "os ver cara a cara" e poder levar algo a Trump e explicar o que preocupa as partes.
Deverá participar na Conferência de Segurança de Munique, que se realiza de 14 a 16 deste mês naquela cidade do sul da Alemanha.
O enviado especial irá apresentar na conferência o plano de Trump para acabar com a guerra entre russos e ucranianos, segundo fontes citadas pela Bloomberg, que adiantaram que Kellogg seguirá, no dia 20, para Kiev.
Nas últimas semanas, Kellogg tem vindo a alertar que tanto Moscovo como Kiev terão de fazer um esforço e ceder em algumas das suas exigências para o bom funcionamento de uma eventual mesa de negociações.
"À medida que se desenvolvem os planos para pôr fim a este massacre, é preciso ter a certeza de que todos os envolvidos estão do nosso lado. Quando conseguirmos ter estas conversações cara a cara, poderemos então começar a trabalhar em concessões", explicou.
A 05 de dezembro de 1994, a Ucrânia assinou o Memorando de Budapeste, ficando, então, obrigada a renunciar às armas nucleares em troca da proteção e de garantias de segurança no país, que acabava de sair da esfera da então extinta União Soviética, dissolvida em 1991.
Na ocasião, ficou no ar a intenção de que essas garantias de segurança poderiam abranger a integração da antiga república soviética na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), o que nunca se verificou.
A adesão da Ucrânia à NATO, aliás, foi um dos argumentos utilizado pela Rússia para a invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, pois, segundo Moscovo, constitui "uma ameaça inaceitável à segurança".
Nesse sentido, a 03 de dezembro de 2024, Zelensky pediu novas garantias de segurança robustas para se proteger de novas agressões russas, já que o retorno do então Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, à Casa Branca aumentava os temores de um acordo rápido para a guerra que deixaria a Ucrânia exposta.
"Hoje, o Memorando de Budapeste é um monumento à falta de visão na tomada de decisões de segurança estratégica", escreveu em dezembro o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano num comunicado.
"[O acordo] deve servir como um lembrete aos atuais líderes da comunidade euro-atlântica de que construir uma arquitetura de segurança europeia às custas dos interesses da Ucrânia, em vez de levá-los em consideração, está fadado ao fracasso", acrescentou a diplomacia ucraniana.
A Ucrânia tem vindo a denunciar o memorando desde 2014, muito antes da invasão de 2022, quando as tropas russas tomaram e anexaram a península da Crimeia, antes de apoiar grupos paramilitares no leste.
Os combates no leste da Ucrânia, que mataram milhares de pessoas, levaram a um cessar-fogo, seguido por dezenas de rondas de negociações sob o que ficou conhecido como os Acordos de Minsk.
Mesmo depois de quase três anos de guerra total, Kiev opõe-se à perspetiva de um regresso a negociações semelhantes que poderiam resultar num cessar-fogo temporário, mas deixam em aberto a possibilidade de uma nova invasão russa.
"Chega do Memorando de Budapeste. Chega dos Acordos de Minsk. Duas vezes é o bastante, não podemos cair na mesma armadilha uma terceira vez. Simplesmente não temos o direito de fazer isso", frisou Zelensky ainda dezembro.
Leia Também: Rússia reivindica ter repelido contraofensiva na região russa de Kursk