Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio acusou Katz de ter um "comportamento irresponsável" e considerou que as declarações do ministro israelita ameaçam "minar as negociações" sobre as várias fases do cessar-fogo e "provocar um regresso às hostilidades", além de "colocar em risco toda a região e os fundamentos da paz".
Katz ordenou hoje que o exército se prepare para a "partida voluntária" da população de Gaza, na sequência do plano anunciado esta semana pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que apelou à "deslocalização permanente" dos residentes de Gaza para países como a Jordânia e o Egito, que rejeitaram a medida.
"O Egito reafirma a sua total rejeição destas declarações irresponsáveis na sua totalidade", indicou o Cairo, acrescentando que tal "constitui uma violação flagrante e evidente do direito internacional, do direito humanitário e infringe os direitos mais básicos do povo palestiniano, que exige responsabilidades".
As autoridades egípcias sublinharam também que rejeitam "qualquer proposta ou conceito que vise eliminar a causa palestiniana através do desenraizamento ou da deslocação" do seu povo e da "sua pátria histórica", incluindo a sua tomada, "quer seja de forma temporária ou permanente".
O Egito apelou ainda à implementação do cessar-fogo em Gaza nas suas três fases e disse que trabalharia com todos os atores internacionais para reconstruir Gaza sem a deslocação forçada dos palestinianos, "especialmente tendo em conta o forte apego à sua pátria histórica e a sua recusa em deixá-la".
"O Egito alerta também para a necessidade de abordar as causas profundas do conflito, que residem na existência de um povo que está sob ocupação há décadas e que sofreu todas as formas de deslocação, opressão e discriminação", frisou.
Trump lançou esta semana a ideia de um controlo norte-americano sobre a Faixa de Gaza, com vista a criar "a Riviera do Médio Oriente", numa conferência de imprensa em Washington, ao lado do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que saudou as propostas do seu aliado.
As Nações Unidas já advertiram o Presidente norte-americano de que o direito internacional proíbe qualquer tipo de deslocação forçada, numa onda de críticas que também teve eco nas potências europeias, nos países árabes e nas organizações de defesa dos direitos humanos.
Na quarta-feira, ao comentarem a proposta de Trump, os presidentes egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, e francês, Emmanuel Macron, alertaram que qualquer "deslocação forçada da população palestiniana em Gaza e na Cisjordânia seria inaceitável".
"Seria uma grave violação do direito internacional, um obstáculo à solução de dois Estados e um grande fator desestabilizador para o Egito e a Jordânia", sublinharam os dois chefes de Estado, segundo um comunicado do Palácio do Eliseu (Presidência francesa), após uma conversa telefónica.
Os dois governantes reiteraram ainda o seu "desejo de trabalhar em prol do respeito duradouro pelo cessar-fogo, bem como de uma solução fiável em Gaza que abra caminho a uma solução política baseada na solução de dois Estados".
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do movimento islamita palestiniano Hamas em Israel a 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala, que provocou mais de 47 mil mortos, na maioria civis, e a destruição da maioria das infraestruturas do enclave, segundo as autoridades locais, controladas pelo Hamas desde 2007.
O conflito também provocou cerca de 1,9 milhões de deslocados, de acordo com a ONU.
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