A decisão foi criticada pelo TPI, que apelou aos 125 países que integram o tribunal para se oporem às sanções e se comprometeu "a continuar a fazer justiça e a dar esperança a milhões de vítimas inocentes de atrocidades".
A agência francesa AFP analisou as consequências da decisão para o tribunal, que foi criado em 2002 para julgar os crimes mais graves do mundo.
Que impacto terão as sanções?
Nem os Estados Unidos nem Israel fazem parte dos 125 Estados membros do TPI, que tem sede em Haia, nos Países Baixos, mas as sanções podem ter um impacto operacional devastador.
As medidas incluem a proibição de viajar para os Estados Unidos para os funcionários do TPI, o que complica o seu trabalho.
As instituições financeiras podem recusar-se a trabalhar com o tribunal, receando represálias dos Estados Unidos.
As sanções poderão também afetar as operações técnicas e informáticas do tribunal, incluindo a recolha de provas.
Há mesmo quem receie que as vítimas de alegadas atrocidades se sintam relutantes em apresentar-se.
"As empresas e as organizações podem simplesmente deixar de fazer negócios com o TPI porque é demasiado arriscado", disse James Patrick Sexton, investigador do Instituto TMC Asser e da Universidade de Amesterdão.
"Os grandes fornecedores, como a Microsoft, poderiam simplesmente retirar-se proativamente", acrescentou à AFP.
As sanções provocaram uma "crise interna" no TPI, segundo Thijs Bouwknegt, do Instituto NIOD de Estudos sobre a Guerra, o Holocausto e o Genocídio.
O procurador do TPI, o britânico Karim Khan, tem vários conselheiros de nacionalidade norte-americana na equipa, lembrou Bouwknegt.
"Já não podem trabalhar em conjunto", disse, referindo-se também a notícias de que os salários foram pagos antecipadamente por receio de futuras dificuldades bancárias.
"O TPI é uma organização internacional, por isso há muitas transações bancárias internacionais", explicou à AFP.
O que é que o TPI pode fazer em resposta?
"Nada", segundo Thijs Bouwknegt.
"Poderão ser apresentados argumentos morais no sentido de que isto é contrário ao direito internacional. Mas isso poderá ter um efeito sobre os nossos parceiros americanos, que são sempre muito cautelosos quando se trata de condenar as ações dos Estados Unidos", disse.
James Patrick Sexton disse ser provável que o TPI inicie uma campanha diplomática para angariar apoio para o tribunal e para a justiça internacional em geral.
Tecnicamente, o estatuto fundador do TPI permite-lhe tomar medidas contra qualquer pessoa que ataque o pessoal do tribunal ou "obstrua, intimide ou influencie de forma corrupta" um membro do TPI.
Juridicamente, isto significa que o TPI poderia retaliar contra Trump, mas "isso não iria exatamente desanuviar a situação", observou Sexton.
Quais são as consequências?
Os especialistas receiam que o enfraquecimento do TPI, que investiga crimes de guerra e crimes contra a humanidade, possa dar "carta-branca" aos ditadores.
As sanções "pretendem minar e destruir o que a comunidade internacional construiu cuidadosamente ao longo de décadas, se não séculos", afirmou a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard.
"As regras globais são aplicáveis a todos e têm como objetivo alcançar a justiça para todos", acrescentou.
Se as sanções forem dirigidas ao procurador, o que é provável, isso significará que as investigações em países como o Afeganistão, a Ucrânia e o Sudão também serão afetadas.
"As vítimas serão privadas de processos, mesmo em casos que os Estados Unidos não desaprovam", disse Sexton.
"Isto irá prejudicar todas as investigações, não apenas a investigação sobre a situação na Palestina", acrescentou, referindo que as sanções surgem numa altura já difícil para o tribunal.
O TPI está envolvido numa disputa com a Itália, que libertou um suspeito líbio de crimes de guerra procurado pelo tribunal de Haia, com Roma a afirmar que o mandado de captura fora mal redigido.
Vários países manifestaram também reservas quanto à detenção do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que é objeto de um mandado de captura, caso se deslocasse a um Estado membro do TPI, o que compromete a credibilidade do tribunal.
Neste contexto, as sanções dos Estados Unidos representam "uma ameaça existencial para o TPI", considerou Sexton.
"Este é um verdadeiro ponto de viragem", referiu.
Houve sanções no passado?
Em 2020, o então secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, impôs sanções à gambiana Fatou Bensouda, na altura procuradora do TPI, devido a uma investigação sobre alegados crimes de guerra cometidos por soldados norte-americanos no Afeganistão.
O sucessor de Trump, Joe Biden, cancelou as sanções um ano mais tarde.
Os Estados Unidos também dispõem de meios drásticos que, teoricamente, poderiam envolver uma invasão dos Países Baixos.
Em 2002, o Congresso aprovou a "Lei de Invasão de Haia", que permite ao Presidente dos Estados Unidos autorizar o uso de força militar para libertar qualquer cidadão norte-americano detido em Haia pelo TPI.
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