"O presidente Trump não vai deixar que ninguém faça do Tio Sam um idiota", avisou o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, a partir de Bruxelas, à margem de uma reunião ministerial da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
Hegseth, que participa pela primeira vez numa reunião da NATO, afirmou hoje que o plano da Ucrânia para recuperar os territórios ocupados pela Rússia desde 2014 e aderir à aliança como garantia de segurança após um acordo de paz é "irrealista", razão pela qual têm de ser iniciadas discussões com Moscovo.
Os Estados Unidos garantiram à imprensa que a abertura destas discussões não constitui, de forma alguma, uma "traição" à Ucrânia.
"Não há traição. Há um reconhecimento [do facto] de que o mundo inteiro e os Estados Unidos estão empenhados na paz, uma paz negociada", disse Hegseth, aos jornalistas.
Os países europeus mostram-se muito céticos, com a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, a estabelecer paralelos entre hoje e 1938, quando os acordos de Munique levaram à anexação de parte da Checoslováquia pela Alemanha de Adolf Hitler.
Esta "estratégia de apaziguamento não está a funcionar", afirmou.
Pete Hegseth disse a cerca de 50 apoiantes ocidentais da Ucrânia que veio a Bruxelas "para expressar direta e inequivocamente que as realidades estratégicas impedem os Estados Unidos de se concentrarem principalmente na segurança da Europa".
"Os Estados Unidos enfrentam ameaças consequentes à nossa pátria. Temos de nos concentrar - e estamos a fazê-lo - na segurança das nossas próprias fronteiras", afirmou, sustentando a ideia de que a Aliança Atlântica está "em desordem" depois de Washington anunciar que as suas prioridades em matéria de segurança são outras.
Segundo analisa a agência noticiosa Associated Press (AP), com apenas um discurso do secretário da Defesa dos Estados Unidos, o membro mais poderoso da NATO "lançou a maior aliança militar do mundo na desordem, levantando questões preocupantes sobre o compromisso dos norte-americanos com a segurança europeia".
"A credibilidade da NATO é sustentada pelo artigo 5, que garante a segurança coletiva para ajudar qualquer membro cuja soberania ou território possa estar sob ataque. Hegseth levantou agora dúvidas sobre o empenhamento dos Estados Unidos nessa garantia, embora tenha afirmado que o seu país não tenciona abandonar a aliança", acrescentou a AP.
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