"O perigoso plano que [Friedrich, líder da CDU] Merz quer implementar logo que chegar ao governo implica destruir o direito de livre circulação, ignorando a lei Básica, e espoletando um efeito dominó que obriga todos os outros Estados-membros [da União Europeia] a adotarem medidas semelhantes. Estas medidas destruirão todo o atual sistema de asilo", apontou o ativista da organização humanitária Pro Asyl, em declarações à agência Lusa.
Karl Kopp dedicou os últimos mais de 30 anos à defesa dos direitos dos refugiados e migrantes na Alemanha. Representa a Pro Asyl no Conselho Europeu para os Refugiados e Exilados (ECRE) como diretor dos Assuntos Europeus.
"O líder da CDU, Friedrich Merz, apoia-se em cinco pontos para fechar de uma forma permanente as fronteiras alemãs, rejeitando todas as pessoas que procuram asilo, prendendo todas as pessoas que viram o seu pedido de asilo recusado, cerca de 40 mil pessoas, e fazendo deportações para países como a Síria e o Afeganistão. Esta proposta, estas medidas, violam claramente a lei, mas a CDU não quer saber", lamentou.
O ativista recorda a moção não vinculativa que a CDU fez passar no parlamento alemão com os votos do partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD).
"Muitos dizem que a CDU abriu uma caixa de Pandora. Pela primeira vez depois da Segunda Guerra Mundial, um partido democrático colaborou abertamente com a extrema-direita para fazer passar uma moção que viola claramente a Constituição alemã, e as leis internacionais", sublinhou.
"Isso não vai apenas restringir as migrações e asilo, mas criará um papel diferente da Alemanha em relação à Europa. Vai passar de ser o líder em cooperação e respeito pelos direitos humanos para passar a defender uma política totalmente nacionalista", frisou.
Quando muitos pensavam que a CDU poderia perder votos depois da aliança com a AfD, as sondagens mostram que os dois partidos beneficiaram das suas posições que defendem uma política de asilo mais rigorosa.
A CDU, liderada por Friedrich Merz, encabeça as sondagens, obtendo entre 29% e 32%. A AfD é a segunda força mais votada conseguindo entre 20% e 22% dos votos.
"Esta cooperação da CDU com a AfD criou muito medo entre os refugiados, entre a comunidade migrante da Alemanha. Que uma coisa fique clara, a Alemanha é um país de imigrantes. Esta sociedade aberta como a conhecemos está em risco", afirmou Karl Kopp.
"Há muitas pessoas que discutem alternativas caso a situação piore porque a CDU e a AfD estão fortes nas sondagens. Mesmo sem coligação com estas duas forças, há um receio de que a Alemanha caminhe na mesma direção que a Áustria", sustentou.
Depois de um atentado há poucas semanas em Aschaffenburg, que terminou com a morte de uma criança de 2 anos e um adulto, um novo ataque, contra uma manifestação, em Munique, na quinta-feira, feriu 36 pessoas, algumas em estado grave.
Os dois ataques foram atribuídos a dois cidadãos do Afeganistão. Analistas acreditam que estes acontecimentos possam mexer com os resultados eleitorais.
A Alemanha realiza em 23 de fevereiro eleições legislativas antecipadas - estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta pelo SPD (social-democrata), pelos liberais do FDP e pelos Verdes.
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