Abinader visitou Mujica na sua casa nos arredores de Montevidéu quando participou da posse do presidente uruguaio Yamandú Orsi no último fim de semana.
"O ex-presidente falou-nos de temas como a democracia e disse que estava triste com o que está a acontecer na Nicarágua e na Venezuela", disse o líder dominicano, que definiu Mujica como um "grande democrata" e um "grande humanista".
Abinader disse que Mujica (2010-2015) recomendou aos dominicanos que fortalecessem os partidos políticos, a institucionalidade, a democracia, a transparência e que não acreditassem num messias que surge e diz que vai resolver tudo.
"Visitámos Mujica e esperávamos vê-lo mais deteriorado, mas ele teve melhorias na saúde (...) mentalmente está lúcido e a verdade é que as minhas primeiras palavras foram, quando o cumprimentei, que tinha ido a este santuário para ouvir a sua sabedoria", disse.
Abinader, que falou à imprensa na sua habitual conferência de imprensa de segunda-feira, acrescentou que o ex-presidente uruguaio se considera um "estoico" em termos filosóficos.
No final de julho do ano passado, a Venezuela cortou relações com um grupo de países latino-americanos, incluindo a República Dominicana, que acusou de emitir "declarações interferentes" relativamente ao resultado das eleições gerais que deram a Nicolás Maduro um novo mandato de seis anos.
"A Venezuela reserva-se todas as ações legais e políticas para fazer cumprir, preservar e defender o nosso direito inalienável à autodeterminação", disse na altura o governo chavista.
Um dia após as eleições na Venezuela, os governos do Uruguai, Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru e República Dominicana expressaram sua profunda preocupação com a condução das eleições presidenciais.
Exigiram também uma revisão completa dos resultados e solicitaram uma reunião urgente da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Em janeiro, o candidato da oposição venezuelana Edmundo González Urrutia visitou a República Dominicana no âmbito de um périplo pela região, tendo sido recebido por Abinader no Palácio Nacional.
O antigo presidente do Uruguai, José 'Pepe' Mujica, de 89 anos, revelou em janeiro que tinha cancro e que se estava a propagar e disse que ia parar com os tratamentos: "Estou em vias de morrer", disse a um jornal local.
"O cancro do esófago está prestes a colonizar o meu fígado. Não o posso parar. Porquê? Porque sou um homem velho e tenho duas doenças crónicas. O meu corpo já não suporta cirurgias nem tratamentos", declarou Mujica, em entrevista ao semanário Busqueda.
"O meu ciclo acabou. Claramente, estou em vias de morrer. O guerreiro tem direito ao seu repouso. Que me deixem tranquilo. Que não me peçam mais entrevistas ou o que quer que seja", acrescentou o que foi presidente uruguaio de 2010 a 2015.
Mujica tinha indicado que tinha iniciado o processo para ser sepultado no jardim da sua quinta modesta, nas proximidades de Montevideu, debaixo de uma árvore que ele próprio plantou, ao lado da sua cadela Manuela.
Designado "o presidente mais pobre do mundo" por ter entregado a quase totalidade dos rendimentos de chefe de Estado a um programa de habitação social, José Mujica fez do Uruguai um Estado pioneiro na adoção de medidas progressistas como o aborto, o casamento homossexual ou a legalização do canábis, que foi mesmo uma novidade à escala mundial.
Antigo guerrilheiro, passou 13 anos preso, a sua maior parte dos quais sob a ditadura militar (1973-1985) e foi torturado, antes de ser deputado, senador, ministro e, por fim, presidente de um país em democracia.
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