Naquele que foi o primeiro discurso perante o Congresso desde que regressou ao poder, Donald Trump adotou um tom mais conciliatório depois do polémico encontro com Zelensky na passada sexta-feira, em Washington.
Trump disse que recebeu uma "carta importante" de Zelensky nesta terça-feira e citou o conteúdo da mesma: "A minha equipa e eu estamos prontos para trabalhar sob a forte liderança do Presidente Trump para obter uma paz duradoura".
"Nós realmente valorizamos o quanto a América fez para ajudar a Ucrânia a manter a sua soberania e independência. Em relação ao acordo sobre minerais e segurança, a Ucrânia está pronta para assiná-lo a qualquer momento que seja conveniente", leu Trump.
Contudo, o conteúdo da alegada carta de Zelensky é o mesmo que o líder ucraniano escreveu horas antes numa publicação nas suas redes sociais.
Trump disse ainda que estava agradecido pela carta, acrescentando que "simultaneamente, teve discussões sérias com a Rússia e recebeu fortes sinais de que Moscovo está pronto para a paz".
Trump e Zelensky estavam prestes a assinar um acordo para a exploração de recursos naturais ucranianos na passada sexta-feira, mas essa assinatura foi interrompida depois de um tenso confronto entre os dois líderes no Salão Oval da Casa Branca.
O tema da Ucrânia surgiu apenas 90 minutos após o início do discurso de Trump.
No seu pronunciamento, Donald Trump sugeriu ainda que o Presidente russo, Vladimir Putin, se sentiu autorizado a invadir a Ucrânia por causa da forma como o Governo de Joe Biden lidou com a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão.
Trump criticou duramente a saída caótica do Afeganistão conduzida pelo antecessor, em agosto de 2021, episódio que resultou na morte de 13 militares norte-americanos.
"Quando Putin viu o que aconteceu, acho que ele disse: 'Bem, talvez esta seja a minha oportunidade', de tão mau que foi. Nunca deveria ter acontecido. Pessoas grosseiramente incompetentes", criticou Trump, referindo-se ao Governo de Joe Biden.
"Se você quer acabar com as guerras, você tem que falar com ambos os lados", advogou ainda o magnata republicano, defendendo a sua reaproximação a Moscovo.
Trump surpreendeu Kiev e os aliados europeus ao anunciar recentemente uma conversa telefónica de cerca de 90 minutos com Vladimir Putin, acabando por abalar a unidade ocidental e a estratégia de isolamento de Moscovo.
Nos últimos dias, Trump falou com a Rússia e com a Ucrânia, mas recusou-se a oferecer a Kiev um compromisso de segurança e tirou à Ucrânia várias opções de negociação para um acordo de paz, excluindo, por exemplo, a integração de Kiev na NATO.
Trump discursou na terça-feira perante o Congresso, poucas horas após anunciar a suspensão imediata da ajuda à Ucrânia.
O discurso foi acompanhado por vários protestos dos democratas, com alguns a vestirem-se de amarelo e azul -- as cores da bandeira ucraniana -- para mostrar apoio ao país após a postura polémica de Trump para com Zelensky.
Depois de falar por cerca de uma hora e 40 minutos, Trump passou a deter o recorde do primeiro discurso mais longo para uma sessão conjunta do Congresso ou discurso do Estado da União, segundo a rede televisiva CNN.
Trump falou mais tempo do que qualquer outro Presidente, tendo, inclusive, superado os tempos registados no seu primeiro mandato.
Contudo, parte da galeria do Congresso estava vazia quando Trump terminou o discurso, uma vez que os democratas abandonaram a sala antes do chefe de Estado concluir as declarações.
[Notícia atualizada às 06h57]
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