A posição russa, transmitida hoje pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ocorreu depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter garantido que o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, está pronto para negociar.
"Esta abordagem é geralmente positiva, mas há nuances", disse o porta-voz da Presidência russa, quando questionado pela agência France-Presse (AFP) sobre as mais recentes declarações de Donald Trump sobre a Ucrânia.
O Presidente dos Estados Unidos, num discurso perante o Congresso norte-americano, na terça-feira, em Washington, disse ter recebido garantias de Zelensky de que estava pronto para negociar "uma paz duradoura" com a Rússia.
"A Ucrânia está pronta para se sentar à mesa das negociações o mais rapidamente possível", afirmou Donald Trump, acrescentando que tinha recebida uma mensagem do Presidente ucraniano.
"A questão é: com quem se sentar" à mesa de negociações, disse Dmitri Peskov.
"Por enquanto, a proibição legal de o Presidente ucraniano negociar com a Rússia continua em vigor", acrescentou o porta-voz do chefe de Estado russo, Vladimir Putin.
Em outubro de 2022, Zelensky emitiu um decreto que proíbe quaisquer conversações diretas com o Presidente russo.
O Presidente ucraniano declarou, no entanto, que está disposto a encontrar-se com Vladimir Putin, mas, no âmbito de quaisquer negociações para pôr termo ao conflito, pedindo garantias sólidas de segurança aos aliados ocidentais.
Vladimir Putin também repete regularmente que está pronto para negociar, sob condições.
Moscovo considera que Volodymyr Zelensky é um chefe de Estado "ilegítimo" porque o mandato deveria ter terminado em 2024.
A lei marcial, em vigor na Ucrânia desde o início do ataque da Rússia em 2022, proíbe a organização de eleições.
A Rússia exige também que Kiev se "desmilitarize" e ceda os territórios que afirma ter anexado, condições que a Ucrânia considera inaceitáveis.
Apesar de todas as conversas e comentários sobre negociações, nada se concretizou até ao momento.
Donald Trump, que tomou posse como chefe de Estado norte-americano em 20 de janeiro, intensificou as críticas à Ucrânia e aproximou-se da Rússia de Vladimir Putin.
Na semana passada, uma reunião em Washington entre o Presidente Trump, o vice-presidente, JD Vance, e Volodymyr Zelensky transformou-se num confronto verbal público perante as câmaras de televisão.
O incidente levou à suspensão, na segunda-feira, da ajuda militar dos Estados Unidos, crucial para o Exército ucraniano.
No entanto, os comentários de Donald Trump, na terça-feira, abrem caminho a um reatar do diálogo tendo Zelensky expressado publicamente "gratidão" e lamentando o incidente.
As posições do Presidente norte-americano ocorrem numa altura em que Kiev enfrenta dificuldades na linha da frente.
Hoje, o Ministério da Defesa russo voltou a reivindicar a responsabilidade pela tomada de uma aldeia no leste da Ucrânia, Pryvilné.
No entanto, o avanço russo abrandou em fevereiro, segundo a análise da AFP tendo em conta os dados fornecidos pelo instituto norte-americano ISW.
As tropas russas ocuparam 389 quilómetros quadrados, depois de terem atingido 725 quilómetros quadrados em novembro do ano passado.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 2014, tendo anexado a Península da Crimeia e lançou uma segunda invasão de grande escala contra Kiev em fevereiro de 2022.
Leia Também: Kremlin diz que há "longo caminho" a fazer para melhorar relações com EUA