"É importante dar visibilidade à situação na Cisjordânia. Na Cisjordânia, a operação das forças de segurança israelitas, que começou há seis semanas, está a afetar gravemente os palestinianos, especialmente no norte. Esta é a maior deslocação de palestinianos na Cisjordânia desde 1967", afirmou o responsável pela agência da ONU numa conferência de imprensa em Genebra, Suíça, após uma reunião com diplomatas de vários países.
Lazzarini referiu que vários campos de refugiados na Cisjordânia foram "praticamente esvaziados", com o número de palestinianos deslocados a atingir os 40.000, e frisou que, devido às demolições em grande escala levadas a cabo por Israel, "as pessoas não têm para onde regressar".
Segundo o diretor da UNRWA, Israel está a levar a cabo uma das operações militares mais longas desde a Segunda Intifada, a revolta palestiniana de 2000-2005, mas a situação está a ser ofuscada pela gravidade do desastre humanitário na Faixa de Gaza.
"Estamos extremamente preocupados com o que está a acontecer [na Cisjordânia]. Vimos tanques aparecerem nos campos de refugiados pela primeira vez desde a Intifada", afirmou Lazzarini.
O responsável da UNRWA relembrou ainda que Israel proibiu a entrada de ajuda humanitária no enclave, controlado pelo movimento extremista palestiniano Hamas desde 2007, onde vigora atualmente um frágil cessar-fogo, que interrompeu a guerra de 16 meses, que provocou um desastre humanitário na Faixa de Gaza e desestabilizou a região do Médio Oriente.
"O que está em causa é a terra dos palestinianos, de onde são originários e onde veem o seu futuro. A questão é como fazer de Gaza um lugar onde possam voltar a viver", afirmou o diretor da agência da ONU.
O representante defendeu a proposta da Liga Árabe, apoiada pela Organização dos Estados Islâmicos, de criar um fundo de 53 mil milhões de dólares (48.9 mil milhões de euros) para financiar a reconstrução de Gaza durante um período de pouco mais de cinco anos.
Lazzarini confirmou que a agência, responsável pela prestação de ajuda e pelo ensino dos palestinianos na Cisjordânia ocupada, na Faixa de Gaza e dos refugiados nos países vizinhos, criada há quase 80 anos, não pode continuar a trabalhar em Jerusalém Oriental devido a uma lei aprovada pelo parlamento israelita.
No entanto, segundo o diretor, a UNRWA continua a trabalhar em Gaza e na Cisjordânia ocupada por Israel desde 1967, mantendo as suas escolas e centros de saúde abertos, mas apenas com pessoal local, já que outra lei israelita aplicável nesta região proibiu a coordenação entre a agência e as autoridades israelitas e obrigou à saída do pessoal internacional, cujos vistos não foram renovados.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo extremista palestiniano Hamas ao sul de Israel em 07 de outubro de 2023, provocando a morte de cerca de 1.200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns, a maioria dos quais civis.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 48 mil mortos, igualmente na maioria civis, de acordo com as autoridades locais controladas pelo Hamas, e um desastre humanitário.
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