A Macedónia do Norte viveu, no último domingo, uma verdadeira tragédia, depois de um incêndio numa discoteca em Kočani causar a morte de pelo menos 59 pessoas e 155 feridos.
Recorde-se que as vítimas são, na sua maioria, jovens que assistiam a um concerto do grupo de hip-hop DNK, um dos mais populares do país, na discoteca 'Pulse'.
Segundo as autoridades locais, cerca de 500 pessoas assistiam ao espetáculo naquele espaço - este número representa pelo menos o dobro da sua capacidade oficial de 250 pessoas.
Um vídeo, que foi amplamente divulgado nas redes sociais, mostra o momento em que as faíscas, provocadas por engenhos de pirotecnia, incendiaram o teto da discoteca. De realçar que o ministro do Interior norte-macedónio, Panche Toshkovski, já tinha confirmado que o incêndio teria sido causado por "dispositivos pirotécnicos" utilizados durante o espetáculo.
Cerca de 20 detenções, incluindo funcionários governamentais
Na mais recente conferência de imprensa, o governante disse que as autoridades detiveram cerca de 20 pessoas, incluindo funcionários do governo e o gerente da discoteca, que não tinha uma licença válida.
Além disso, precisou que mais de 20 dos feridos e três dos mortos tinham menos de 18 anos.
Já o primeiro-ministro, Hristijan Mickoski, afirmou que a licença foi emitida ilegalmente pelo Ministério da Economia e prometeu que os responsáveis serão julgados.
"Independentemente de quem sejam, de que instituição, de que nível, de que partido e profissão", apontou.
A presidente da Macedónia do Norte declarou, entretanto, sete dias de luto nacional.
"É o meu único filho e morreu"
À medida que o tempo passava, as pessoas continuava à procura dos seus entes queridos nos hospitais de todo o país, mas procuravam também informações online.
No exterior do principal hospital de Kočani, os familiares e amigos das vítimas abraçavam-se e acendiam velas.
Dragi Stojanov, pai de uma das vítimas, partilhou que o seu único filho, Tomce, de 21 anos, tinha "apenas começado a viver". "É o meu único filho e ele morreu. O que me resta na vida? Não preciso mais da minha vida", disse, citado pela imprensa internacional.
Entre as vítimas está um futebolista do FC Shkupi, que emitiu um comunicado a lamentar a morte de Andrej Lazarov. Um agente da brigada antidroga, que trabalhava durante o concerto, também morreu.
Por sua vez, um dos membros do grupo DNK, Vladimir Blazev, sofreu queimaduras no rosto e encontrava-se sob assistência respiratória na manhã de ontem, revelou a irmã à imprensa local.
Alguns feridos foram transferidos para países os vizinhos Bulgária, Sérvia e Grécia para receberem tratamento, uma vez que vários países ofereceram ajuda após a tragédia.
Segundo as autoridades, mortos e feridos sofreram queimaduras, inalação de fumo e ocorreu uma debandada na tentativa desesperada de alcançar a única saída do edifício.
Ao longo da manhã de domingo, multiplicaram-se também as reações de líderes internacionais.
A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, expressou na rede X estar "profundamente entristecida pelo incêndio trágico que custou a vida a demasiados jovens em Kocani" e sublinhou que a União Europeia (UE) "partilha o luto e a dor" do povo da Macedónia do Norte.
Por sua vez, o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou "o seu profundo pesar pelas consequências desoladoras do incêndio" e transmitiu à sua homóloga norte-macedónia "sentidas condolências aos familiares de todos os que perderam a vida e a rápida recuperação dos feridos".
O chefe de Estado português considerou tratar-se de um "momento de choque e tristeza", tal como o Ministério dos Negócios Estrangeiros português.
Também o Papa Francisco, hospitalizado devido a problemas respiratórios, expressou profundas condolências às vítimas e sobreviventes do incêndio.
O concerto tinha começado por volta da meia noite e o incêndio começou pelas 03h00 (02h00 em Lisboa).
O incêndio provocou o desabamento parcial do telhado do edifício de um só piso, revelando os restos carbonizados de vigas de madeira e detritos. A polícia isolou o local e enviou equipas de recolha de provas, numa operação que envolveu também o Ministério Público.
O procurador-geral da Macedónia do Norte, Ljupco Kocevski, afirmou que cinco procuradores iriam investigar o incidente.
Toskovski disse que as autoridades tinham detido membros da banda, o filho do proprietário do clube e funcionários do governo.
A pirotecnia tem sido frequentemente a causa de incêndios mortais em clubes noturnos, incluindo o do clube Colectiv em Bucareste, na Roménia, em 2015, no qual morreram 64 pessoas.
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