Estas novas alegações contra o chefe da Agência de Segurança Interna surgem no meio de uma crescente polarização política, com dezenas de milhares de israelitas a protestarem, nos últimos dias, contra a "atuação autocrática" do primeiro-ministro, incluindo em relação a Ronen Bar.
O chefe do Governo está num impasse com o Supremo Tribunal, que suspendeu a demissão de Ronen Bar, anunciada pelo Governo na sexta-feira, e com a procuradora-geral do Estado, Gali Baharav-Miara, contra quem o Governo apresentou, no domingo, uma moção de censura, o primeiro passo de um processo de destituição que promete ser longo.
Em comunicado hoje divulgado, o Governo israelita acusou o líder do Shin Bet de investigar o ministro da Segurança Nacional, de extrema-direita, Itamar Ben Gvir, sem o consentimento do primeiro-ministro.
Esta declaração foi feita depois de a estação de televisão Canal 12 ter afirmado que o Shin Bet está, há vários meses, a conduzir uma "investigação secreta" sobre a infiltração de elementos de extrema-direita na polícia e também ao ministro Ben Gvir.
"O documento publicado, que contém uma diretiva explícita do chefe do Shin Bet para reunir provas contra o político, é semelhante aos métodos de regimes (obscuros), mina os fundamentos da democracia e visa derrubar o Governo de direita", acrescentou o gabinete de Benjamin Netanyahu.
Por sua vez, o ministro da Segurança Nacional descreveu Ronen Bar, na rede social X, como um "criminoso e um mentiroso", que "está agora a tentar negar a sua tentativa de conspiração contra os representantes eleitos de um país democrático".
O Governo, um dos mais à direita da História de Israel, anunciou a demissão de Ronen Bar na sexta-feira, mas o Supremo Tribunal suspendeu a decisão algumas horas depois para apreciar cinco recursos interpostos, incluindo um da oposição.
O líder do Shein Bet tornou-se um incómodo para Netanyahu e para os seus aliados desde o regresso ao poder do líder do Likud (direita), no final de 2022, graças a uma aliança com partidos de extrema-direita.
Desde então, Ronen Bar tem denunciado atos de "terrorismo judaico" na Cisjordânia ocupada, sendo que as últimas investigações dos seus serviços implicaram o executivo de Netanyahu.
O primeiro-ministro culpa Ronen Bar pelo fracasso de Israel em impedir o ataque do Hamas, a 07 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em curso em Gaza.
Um dos recursos contra a demissão de Ronen Bar alega que os verdadeiros motivos para a sua destituição têm a ver com o chamado "Qatargate", no qual o Shin Bet suspeita que aliados do primeiro-ministro tenham recebido subornos do Qatar.
O recurso aponta também para as conclusões da recente investigação interna do Shin Bet, que diz que o Governo falhou no dia 07 de outubro de 2023, o dia mais mortífero da história de Israel, e questiona, sem nomear, a política de apaziguamento do Hamas defendida durante anos por Netanyahu e por outros líderes políticos.
Perante a escalada dos protestos, Benjamin Netanyahu desafiou os manifestantes no sábado à noite, dizendo: "Ronen Bar não permanecerá como chefe do Shin Bet, não haverá guerra civil e Israel continuará a ser um estado democrático".
A procuradora-geral também está na mira do Governo depois de ter criticado abertamente a destituição de Ronen Bar, garantindo que não tem bases legais, e afirmando que Netanyahu tem um "conflito de interesses" relativamente ao assunto, já que o Shin Bet alertou recentemente para "a responsabilidade" da liderança política do país nos ataques do Hamas.
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