Depois de a revista norte-americana The Atlantic publicar um artigo com base em informação recolhida pelo seu diretor após ser sido incluído por engano num grupo na aplicação Signal em que foram trocadas mensagens ultrassecretas da Casa Branca, Pentágono e Departamento de Estado sobre ataques contra os Huthis no Iémen, a administração de Donald Trump confirmou hoje o incidente.
No grupo foi partilhada informação sobre operações e alvos norte-americanos, que a revista omitiu no artigo por questões de segurança, mas ainda assim constitui uma das violações de segurança de maior visibilidade na história militar recente dos EUA.
Reagindo ao incidente, Chuck Schumer considerou tratar-se "de uma das fugas de informação militar mais impressionantes em muito, muito tempo".
"Já é mau o suficiente que um cidadão privado tenha sido adicionado a esta cadeia, mas é muito pior que informações militares sensíveis tenham sido trocadas numa aplicação não autorizada, especialmente quando essas informações militares sensíveis eram tão, tão importantes", disse Schumer.
Em comentários no plenário do Senado, o líder democrata sublinhou que o Signal é uma aplicação "insegura".
"Este desastre exige uma investigação completa sobre como aconteceu, os danos que criou e como podemos evitá-lo no futuro", continuou, citado pelo The Hill.
"Se os segredos militares da nossa nação estão a ser transmitidos através de cadeias de texto inseguras, temos de o saber imediatamente e temos de acabar com isso imediatamente", sublinhou.
Schumer também fez referência a um ataque frequentemente utilizado pelo Partido Republicano contra a antiga secretária de Estado Hillary Clinton devido à sua utilização de um servidor de correio eletrónico privado para trocar mensagens oficiais.
"Se há uns anos atrás estavam em polvorosa por causa de e-mails inseguros, deveriam certamente estar indignados com este comportamento amador", disse.
Antes, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes, reconheceu que a informação disponível indica que a cadeia de mensagens relatada no artigo da The Atlantic "é autêntica".
"Estamos a investigar como é que um número foi adicionado por engano", disse.
No artigo, o jornalista Jeffrey Goldberg afirmou ter recebido antecipadamente - através de uma mensagem na Signal, uma plataforma de comunicação encriptada - o plano detalhado dos ataques dos EUA de 15 de março contra o grupo rebelde no Iémen.
"O secretário da Defesa, Peter Hegseth, enviou-me o plano de ataque", duas horas antes do início da iniciativa militar norte-americana, incluindo "informações precisas sobre armas, alvos e calendário", escreveu Goldberg.
O jornalista explicou que tudo começou com um contacto a 11 de março do conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, através do Signal, popular entre repórteres e políticos, pela confidencialidade que promete.
Dois dias depois, o jornalista recebeu uma mensagem que referia "a coordenação" de ações contra os Huthis.
Goldberg disse que um total de 18 pessoas estavam incluídas na partilha da informação, incluindo, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, o vice-Presidente, J.D. Vance, e o chefe dos serviços secretos (CIA), John Ratcliffe.
A partir daí, o jornalista recebeu uma série de mensagens dos mais altos funcionários do Governo norte-americano, até 15 de março, incluindo uma de Pete Hegseth, com pormenores dos ataques.
O jornalista disse ter "dúvidas muito fortes" sobre a credibilidade do grupo de discussão até que surgiram os primeiros relatos dos ataques contra os Huthis.
"Não queria acreditar que o Conselho de Segurança Nacional do Presidente fosse tão imprudente ao ponto de incluir o diretor da The Atlantic" em mensagens tão confidenciais, concluiu Goldberg.
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