Em conferência de imprensa, após o anúncio da Casa Branca de que Moscovo e Kyiv concordaram com uma trégua nas hostilidades no mar Negro, Volodymyr Zelensky referiu-se a "boas medidas" no resultado das discussões e comprometeu-se a implementá-las e a manter uma atitude construtiva, defendendo o envolvimento de outros países.
"Não é algo mau, por exemplo, que alguém na Europa, ou, por exemplo, na Turquia, possa estar envolvido na situação no mar [Negro], e talvez alguém do Médio Oriente em relação às questões energéticas", sustentou.
Ao mesmo tempo, Zelensky opôs-se a qualquer "enfraquecimento das sanções" internacionais contra a Rússia, depois de a Casa Branca ter referido que Washington está pronta para ajudar Moscovo a facilitar o acesso dos produtos agrícolas e fertilizantes russos ao mercado global.
"Acreditamos que se trata de um enfraquecimento das sanções", comentou o líder ucraniano, indicando que esta possibilidade não estava na agenda da delegação ucraniana e foi levantada pelos Estados Unidos durante as negociações em Riade, acrescentou.
O presidente da Ucrânia deixou ainda uma nota de condenação às palavras controversas do enviado especial norte-americano, Steve Witkoff, divulgadas em vésperas das negociações em Riade sobre a sua análise do conflito, acusando de coincidirem com as posições do Kremlin.
Os Estados Unidos anunciaram um acordo com as delegações ucraniana e russa para uma trégua dos combates no mar Negro, no âmbito das negociações na Arábia Saudita sobre o conflito na Ucrânia.
Os dois países concordaram "garantir a segurança da navegação, eliminar o uso da força e impedir o uso de embarcações comerciais para fins militares no mar Negro", afirmou a Casa Branca, que fez o anúncio do acordo com Kyiv e Moscovo em declarações separadas.
Nos textos, Washington indicou também que as partes deram o seu acordo para "desenvolver medidas" com vista a proibir os ataques às instalações energéticas russas e ucranianas.
Em relação à Rússia, os Estados Unidos comprometeram-se a ajudar a restaurar o acesso ao "mercado global de exportações agrícolas e de fertilizantes", bem como a facilitar o acesso aos portos e aos sistemas de pagamento destas transações.
Sobre a Ucrânia, a administração do presidente norte-americano, Donald Trump, prometeu "ajudar a concretizar a troca de prisioneiros de guerra, a libertação de civis e o regresso de crianças ucranianas transferidas à força" para território russo.
Após a ronda negocial, o ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, que liderou a delegação do país, avisou que vai considerar a entrada de qualquer navio militar russo nas águas territoriais ucranianas como uma violação do cessar-fogo parcial.
"Importante! O lado ucraniano sublinha que o movimento de navios de guerra da Rússia para fora do mar Negro oriental constituirá uma violação do espírito deste acordo", afirmou Umerov, nas redes sociais, e também "uma violação do compromisso de garantir uma navegação segura" na região e uma ameaça à segurança nacional da Ucrânia.
"Neste caso, a Ucrânia terá todo o direito de exercer o direito à legítima defesa", declarou Umerov sobre este ponto do acordo.
O ministro da Defesa ucraniano explicou, em linha com o que a Casa Branca tinha declarado anteriormente, que todas as partes se comprometeram a "eliminar o uso da força" no mar Negro.
Para a aplicação do entendimento, serão necessárias mais consultas técnicas para "chegar a acordo sobre todos os detalhes e aspetos técnicos da implementação, supervisão e controlo" dos acordos alcançados, sublinhou Umerov.
No anúncio, o Governo norte-americano reiterou a Moscovo e a Kyiv a necessidade de "travar os assassínios" como um passo para alcançar uma "paz duradoura".
"Os Estados Unidos vão continuar a facilitar as negociações entre os dois lados para alcançar uma solução pacífica, consistente com os acordos alcançados em Riade", acrescentou a Casa Branca, na sequência das negociações com os representantes de Kyiv e Moscovo, iniciadas no domingo na capital saudita.
A Rússia já tinha exigido "garantias claras de segurança" à Ucrânia para retomar a implementação da Iniciativa do mar Negro, que vigorou no primeiro ano do conflito, em 2022.
A Iniciativa do Mar Negro, uma trégua marítima assinada em junho de 2022 e em vigor durante um ano, com envolvimento das Nações Unidas e da Turquia, permitiu a exportação de milhões de toneladas de cereais e outros produtos alimentares dos portos ucranianos, bloqueados com o início da invasão russa.
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