"Tudo o que [Putin] está a fazer é atrasar qualquer possibilidade (...) de negociação" com vista a "acabar com a guerra", comentou Zelensky numa conferência de imprensa, em Kyiv.
Zelensky indicou, por outro lado, ter recebido dos Estados Unidos uma nova versão do acordo sobre os minerais estratégicos da Ucrânia, aos quais Washington pretende ter acesso.
"A parte ucraniana (...) recebeu hoje oficialmente as propostas norte-americanas numa nota", disse o chefe de Estado ucraniano na mesma conferência de imprensa, sem dar pormenores sobre a nova versão, que, segundo os meios de comunicação social, é muito desfavorável à Ucrânia.
Putin propôs hoje uma administração de transição para a Ucrânia sob a égide da ONU, o que implicaria o afastamento de Zelensky, antes de quaisquer negociações de paz.
Falando à tripulação de um submarino nuclear russo em Murmansk (noroeste), Putin reafirmou que Zelensky, cujo mandato expirou no ano passado, não tem legitimidade para assinar um acordo de paz.
A Constituição ucraniana proíbe a realização de eleições enquanto a Ucrânia estiver sob lei marcial, que está em vigor desde que a Rússia invadiu o país, em fevereiro de 2022.
Putin afirmou que qualquer acordo assinado com o atual governo ucraniano poderá ser contestado pelos seus sucessores.
"Sob os auspícios das Nações Unidas, com os Estados Unidos, mesmo com os países europeus, e, claro, com os nossos parceiros e amigos, poderíamos discutir a possibilidade de introduzir uma governação temporária na Ucrânia", disse Putin, citado pela agência norte-americana AP.
Tal solução, segundo Putin, permitiria à Ucrânia "realizar eleições democráticas, levar ao poder um governo viável que gozasse da confiança do povo e, em seguida, iniciar negociações com eles [as novas autoridades] sobre um tratado de paz".
Os comentários de Putin surgiram horas depois de uma cimeira organizada pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, que avaliou planos para enviar tropas para a Ucrânia para cimentar um eventual acordo de paz.
Macron disse no final da cimeira de quinta-feira em Paris que vários países concordaram em fazer parte da força ao lado da França e do Reino Unido. Uma missão franco-britânica deverá deslocar-se à Ucrânia "nos próximos dias", segundo Macron.
A Rússia avisou que não aceitará tropas de membros da NATO como parte de uma futura força de manutenção da paz.
A Rússia e a Ucrânia concordaram com uma trégua provisória aos ataques às infraestruturas energéticas, mediada pelos Estados Unidos, mas rapidamente se acusaram mutuamente de violações, ilustrando as dificuldades de uma negociação de paz mais alargada.
A propósito da proposta de Putin sobre uma administração de transição na Ucrânia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, frisou hoje que o Governo de Zelensky é "legítimo e deve ser respeitado".
"Em primeiro lugar, a Ucrânia tem um Governo legítimo e, por isso, obviamente que deve ser respeitado", respondeu Guterres aos jornalistas, em Nova Iorque, ao ser questionado sobre a proposta russa.
A União Europeia (UE) também ecoou esse sentimento hoje, enfatizando que Zelensky foi "legitimamente" e "democraticamente eleito", nas palavras da porta-voz-chefe da Comissão Europeia, Paula Pinho, durante a conferência de imprensa diária da instituição.
Em relação às negociações indiretas mediadas pelos Estados Unidos entre a Rússia e a Ucrânia, Guterres deixou claro que "a ONU não faz parte das negociações".
Guterres esclareceu que apenas a secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan, manteve contactos com os Estados Unidos, supostamente limitados à questão da circulação no Mar Negro e à exportação de cereais ucranianos.
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