As tarifas anunciadas, na semana passada, pelo presidente norte-americano, Donald Trump, deixaram o mundo em alvoroço. Com o perigo de uma recessão global, que já se faz sentir sobretudo nos bolsos dos bilionários que perderam, só na quinta e sexta-feira, 488 mil milhões de euros, os membros do Partido Republicano, ao qual pertence o próprio chefe de Estado, estão a virar-se contra Trump e a juntar-se à oposição democrata para apoiar um projeto lei capaz de limitar o poder para impor tarifas.
O projeto de lei que pode concretizar essa limitação chama-se "Lei de Revisão do Comércio" e propõe obrigar o presidente a obter a aprovação do Congresso antes de impor tarifas alfandegárias, que só podem ser prorrogadas por um máximo de dois meses, a menos que a legislatura aprove a sua prorrogação.
Além disso, confere à legislatura o poder de cancelar as tarifas antes do prazo de 60 dias, se houver consenso em ambas as câmaras.
Esta iniciativa está a ser promovida pelo congressista republicano Don Bacon, segundo o site informativo Axios, e é apoiada por um grupo de sete senadores republicanos, no qual se inclui o antigo líder da Câmara dos Representantes Mitch McConnell.
As hipóteses de qualquer uma destas duas propostas se tornar lei dependem de um maior número de legisladores republicanos romperem as fileiras do partido, pois é necessária uma votação de dois terços em ambas as câmaras para ultrapassar o veto da Casa Branca.
Pausa nas tarifas é "fake news". Trump recua: "Não sejam fracos!"
Durante alguns minutos de segunda-feira houve esperança de que Trump estivesse a considerar fazer uma pausa nas tarifas, com o diretor do Conselho Económico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, a avançar que o presidente poderia introduzir uma pausa de 90 dias nas tarifas aplicadas a todos os países, com a exceção da China. A informação foi concedida durante uma entrevista à CNBC, na qual o responsável assinalou que a queda da bolsa não fazia parte da estratégia de Trump.
Mas foi sol de pouca dura. O mesmo meio norte-americano revelou, pouco depois, que a Casa Branca negava as declarações, designando-as como "fake news" [notícias falsas, em português].
Antes desta hipótese surgir, Donald Trump tinha recorrido à sua rede social, Truth Social, para sublinhar que, com as tarifas, os Estados Unidos estavam a ter a oportunidade de fazer algo que já deveria ter feito "há décadas", pedindo aos norte-americanos que não sejam "fracos", após ter imposto tarifas a praticamente todos os países do mundo.
"Os Estados Unidos têm a oportunidade de fazer algo que deveria ter sido feito há DÉCADAS. Não sejam fracos! Não sejam estúpidos! Não sejam 'PANICAN' (Um novo partido baseado em pessoas Fracas e Estúpidas!). Sejam Fortes, Corajosos e Pacientes, e a GRANDEZA será o resultado!", escreveu Trump.
Em reação, o presidente executivo do banco JPMorgan Chase, Jamie Dimon, alertou que a política tarifária de Donald Trump está a levar os mercados ao "ambiente geopolítico e económico mais perigoso e complicado desde a Segunda Guerra Mundial". E mostrou não ter dúvidas de que vão "aumentar a inflação" e levar a economia global para uma recessão.
China recusa ceder a "ameaças" e promete retaliar
Perante as ameaças de Trump, que prometeu aumentar ainda mais as tarifas alfandegárias sobre os produtos chineses, a embaixada chinesa nos Estados Unidos quis "deixar claro" que "pressionar ou ameaçar a China não é a forma correta de lidar" com o país, que irá "salvaguardar firmemente os seus direitos e interesses legítimos".
Em Portugal, Governo reúne com associações para analisar impacto
O Ministério da Economia antecipou, para esta terça e quarta-feira, as reuniões com as associações empresariais, devido ao possível impacto das tarifas na economia nacional. As reuniões terão início às 09h00 e irão decorrer "ao longo do dia", indicou o ministério.
Segundo o Governo, estão previstas reuniões com a ANIMEE - Associação Portuguesa de Empresas do Setor Elétrico e Eletrónico, a AIP - Associação Industrial Portuguesa, a CIP - Confederação Industrial de Portugal, a APF - Associação Portuguesa de Fundição, a CEFAMOL - Associação Nacional da Indústria de Moldes e a APIP - Associação Portuguesa das Indústrias do Plástico.
Serão também ouvidas a APIB - Associação Portuguesa dos Industriais da Borracha, a APIMA - Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins, a AIMMP - Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal, a APPICAPS - Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos e a APIC - Associação Portuguesa da Indústria de Curtumes.
A lista de associações empresariais recebidas pelo Governo inclui ainda a ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, a ANIVEC - Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção, a ANITLAR - Associação Nacional das Indústrias de Têxtil Lar, a ANIL - Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios, a APCOR - Associação Portuguesa da Cortiça e AEP - Associação empresarial de Portugal e a AQuimica.
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