Os procuradores federais invocaram uma lei raramente utilizada que permite que as pessoas sejam julgadas no sistema judicial dos EUA por torturas alegadamente cometidas no estrangeiro.
Michael Sang Correa, um cidadão da Gâmbia, foi acusado, em 2020, de fazer parte de uma conspiração para torturar mental e fisicamente pessoas suspeitas de estarem envolvidas no golpe de Estado falhado, de 2006, na Gâmbia.
Segundo a acusação, Correa e os seus alegados cúmplices teriam pontapeado e espancado os detidos com canos e arames, por vezes tapando as cabeças das vítimas com sacos de plástico, e também administrado choques elétricos nos seus corpos.
Os procuradores afirmam que Correa fazia parte de uma unidade militar conhecida como Junglers que reportava diretamente ao antigo ditador Yahya Jammeh.
Os advogados tencionam argumentar que Correa agiu sob coação, de acordo com os documentos do tribunal.
Os procuradores e a defesa concordaram que existem informações que indicam que os membros dos Junglers que não cumprissem as ordens de Jammeh seriam mortos.
Correa veio para os EUA para servir como guarda-costas de Jammeh, em dezembro de 2016, mas permaneceu e ultrapassou o prazo de validade do seu visto após Jammeh ter sido deposto, segundo os procuradores.
Segundo a organização não-governamental Human Rights Watch, Correa é a terceira pessoa a ser julgada ao abrigo de uma lei dos EUA que permite que as pessoas sejam acusadas de cometer crimes no estrangeiro, sendo que os outros dois que foram julgados anteriormente eram cidadãos norte-americanos e foram condenados a longas penas de prisão.
O filho do antigo Presidente da Libéria, Charles Taylor Jr., foi condenado em 2008 por torturas cometidas na Libéria entre 1997 e 2003.
Em 2023, Ross Roggio, da Pensilvânia, foi condenado por torturar um empregado no Iraque, quando era acusado de operar uma fábrica ilegal no Curdistão.
No mesmo ano, um cidadão da Gâmbia, também membro dos Junglers, foi condenado por um tribunal alemão por homicídio e crimes contra a humanidade por envolvimento na morte de críticos do Governo da Gâmbia.
No ano passado, o antigo ministro do Interior de Jammeh foi condenado a 20 anos de prisão por um tribunal suíço por crimes contra a humanidade.
Há diversos países a processarem pessoas ligadas ao regime de Jammeh.
Jammeh, ditador durante 22 anos na Gâmbia, um país rodeado pelo Senegal, foi acusado de mandar torturar, prender e matar opositores.
Em 2017, perdeu as eleições presidenciais e exilou-se na Guiné Equatorial, depois de inicialmente se ter recusado a demitir-se.
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