"A morte, a destruição, a deslocação, a negação de acesso às necessidades básicas em Gaza e a repetida sugestão de que os residentes de Gaza devem abandonar o território levantam preocupações reais sobre a capacidade dos palestinianos de viverem no futuro como um grupo em Gaza", disse a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, numa conferência de imprensa em Genebra, Suíça.
"A nossa declaração de hoje eleva, portanto, as nossas preocupações a um novo nível devido ao efeito acumulativo do que está a acontecer em Gaza", afirmou a porta-voz.
Já num comunicado, o Alto Comissariado denunciou particularmente o impacto nos civis dos ataques israelitas das últimas semanas na Faixa de Gaza, após a quebra do cessar-fogo com o grupo extremista Hamas, referindo que "uma grande percentagem das vítimas são crianças e mulheres".
"Entre 18 de março e 09 de abril de 2025, ocorreram aproximadamente 224 ataques israelitas contra edifícios residenciais e tendas para pessoas deslocadas", disse o mesmo organismo da ONU, no comunicado, acrescentando que, dos "36 ataques documentados e corroborados", as vítimas "eram apenas mulheres e crianças até agora".
De acordo com a agência da ONU, apesar das ordens israelitas para que os civis se deslocassem para a zona de Al-Mawasi, "os ataques continuaram às tendas dos deslocados nesta região --- com pelo menos 23 incidentes deste tipo registados pelo Alto Comissariado desde 18 de março".
Nas declarações em Genebra, Ravina Shamdasani criticou ainda o aumento das ordens de retirada emitidas pelo exército israelita "que são, na verdade, ordens de movimentação".
Israel, como potência ocupante, pode legalmente ordenar a retirada temporária de civis de certas áreas, mas, frisou a porta-voz, "a natureza e o âmbito das ordens de evacuação levantam sérias questões sobre a intenção de Israel de excluir permanentemente a população civil dessas áreas para criar uma 'zona tampão'".
O Alto Comissariado lembrou que "deslocar permanentemente a população civil num território ocupado equivale a uma transferência forçada", o que "é um crime contra a humanidade, de acordo com o Estatuto de Roma".
Além disso, o organismo da ONU lembrou que há "ataques e assassínios de jornalistas palestinianos", sublinhando que dirigir ataques intencionalmente contra civis que não participam diretamente nas hostilidades constitui um crime de guerra.
O bloqueio imposto a Gaza durante seis semanas e as declarações das autoridades israelitas a condicionar a entrada de ajuda humanitária à libertação de reféns mantidos pelo Hamas podem ser vistos como um castigo coletivo e um desejo de matar a população à fome, ambos "crimes perante o direito internacional", referiu ainda a agência.
As autoridades de Gaza elevaram para mais de 50.700 o número de palestinianos mortos na guerra que Israel trava no enclave palestiniano contra o Hamas, iniciada horas depois do ataque de dimensões sem precedentes cometido pelo grupo em território israelita a 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 sequestrados.
Cerca de 1.400 mortes ocorreram desde 18 de março, quando o Exército israelita quebrou o cessar-fogo alcançado em janeiro com o Hamas e retomou os bombardeamentos e a ofensiva terrestre.
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