Exército israelita faz de 30% de Gaza "perímetro de segurança"

O Exército israelita anunciou hoje ter transformado cerca de 30% da Faixa de Gaza num "perímetro de segurança", uma zona-tampão onde a população palestiniana não pode viver.

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© Ashraf Amra/Anadolu via Getty Images

Lusa
16/04/2025 19:33 ‧ há 2 dias por Lusa

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Médio Oriente

Num comunicado, o Exército indicou igualmente ter atacado cerca de 1.200 "alvos terroristas" a partir do ar e efetuado mais de 100 "eliminações seletivas" desde que retomou a sua ofensiva no território palestiniano, a 18 de março, após um cessar-fogo de dois meses.

 

Cerca de 500.000 palestinianos foram obrigados a deslocar-se na Faixa de Gaza desde o fim do cessar-fogo e o recomeço das operações militares israelitas, indicou hoje uma porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.

"Os nossos parceiros humanitários estimam que, desde 18 de março, cerca de meio milhão de pessoas foram deslocadas pela primeira vez ou mais uma vez", declarou Stéphanie Tremblay, numa altura em que quase todos os mais de dois milhões de habitantes do território palestiniano já tinham sido deslocados, muitos várias vezes, antes do cessar-fogo.

A organização não-governamental (ONG) israelita Breaking the Silence, formada por antigos soldados e reservistas que se opõem à ocupação israelita, afirmou hoje que o Exército israelita ocupa atualmente cerca de 36% da Faixa de Gaza e advertiu que está em curso uma "limpeza étnica em grande escala".

"Chamam-lhe 'zona-tampão' por razões de segurança, mas esta área ocupa agora cerca de 36% de toda a Faixa de Gaza. Torná-la permanente significa uma coisa: limpeza étnica em grande escala. Nunca se tratou de segurança, nunca se tratou de controlo. A deslocação e a destruição não criam segurança", afirmou a ONG num comunicado divulgado nas redes sociais.

A mensagem da ONG Breaking the Silence surge pouco depois de o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, ter reiterado, num comunicado, que as tropas se manterão nas denominadas "zonas de segurança" ocupadas pelo Exército na Faixa de Gaza, mesmo que seja alcançado um acordo de cessar-fogo.

"O Exército permanecerá nas zonas de segurança como um tampão entre o inimigo e as comunidades independentemente de qualquer acordo em Gaza, temporário ou permanente", afirmou Katz no comunicado, à semelhança do que o Exército já faz no Líbano ou na Síria.

O perímetro de segurança, que Israel alargou durante a guerra - além de destruir todos os edifícios e infraestruturas aí existentes -, faz fronteira com todo o enclave palestiniano, mas ocupa também duas zonas militares - o corredor de Netzarim, no centro, e o eixo de Morag - e agora também toda a zona sul de Rafah.

Numa mensagem posterior na rede social X (antigo Twitter), Katz insistiu que os camiões que transportam ajuda humanitária continuarão a ser impedidos de entrar em Gaza como "instrumento de pressão", o que, segundo organizações como o Programa Alimentar Mundial (PAM), deixa centenas de milhares de habitantes de Gaza em situação de fome.

Desde 02 de abril, Israel, que controla todos os pontos de acesso fronteiriço ao território palestiniano, não permite a entrada de qualquer tipo de provisões na Faixa de Gaza, incluindo água e alimentos, mas também combustível, tendas de campanha, utensílios e medicamentos, o que organizações não-governamentais como a israelita Ghisa classificam como "crime de guerra".

"Gaza transformou-se numa vala comum para a população palestiniana e para quem acorre em sua ajuda", denunciou também hoje a coordenadora de emergências da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Faixa de Gaza, Amande Bazerolle, considerando que a ajuda humanitária é cada vez mais difícil de prestar no território.

Num comunicado, a MSF alerta de que, com a retomada da guerra israelita há quase um mês e o impedimento da entrada de ajuda por Israel, "as vidas dos palestinianos estão a ser devastadas de forma sistemática, através da deslocação forçada da população e do bloqueio deliberado de ajuda vital".

Na nota, a MSF defende que os ataques israelitas a paramédicos e equipas de socorro "mostraram um flagrante desprezo pela segurança dos trabalhadores humanitários e profissionais de saúde em Gaza".

"Estamos a assistir em tempo real à destruição e à deslocação forçada de toda a população da Faixa de Gaza", afirmou Bazerolle, acrescentando que "não há lugar seguro para os seus habitantes ou para aqueles que tentam ajudá-los".

Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.

A guerra naquele território palestiniano fez, até agora, mais de 51.000 mortos, na maioria civis, incluindo mais de 18.000 crianças, e mais de 111.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.

E, no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.

Leia Também: Jihad Islâmica divulga vídeo de refém israelita vivo

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