Rusgas contra a Renamo revelam nível extremo de intolerância

O politólogo moçambicano João Pereira defendeu hoje que as recentes rusgas contra a Renamo revelam um "nível extremo da intolerância política em Moçambique", evidenciando uma contradição entre o discurso do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e as ações da polícia.

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Lusa
30/03/2016 19:03 ‧ 30/03/2016 por Lusa

Mundo

Moçambique

"Estes episódios revelam um nível extremo da intolerância política", disse à Lusa o professor de Ciência Política na Universidade Eduardo Mondlane, à margem de um seminário sobre abstenção eleitoral em Moçambique, sustentando que há uma "grande contradição" entre o discurso de Filipe Nyusi, convidando o líder da oposição para dialogar, e as operações policiais às residências do Afonso Dhlakama.

No domingo, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) acusou a polícia de invadir duas residências do seu líder em Maputo e a sede nacional do maior partido de oposição, mas as autoridades moçambicanas dizem que a ação visava a apreensão de material bélico, tendo sido confiscadas 47 armas.

Para João Pereira, além de um alto nível de intolerância, as rusgas contra a Renamo revelam uma falta de vontade política para resolver a crise política, um problema agravado pelo que diz ser a centralização do poder por parte de uma minoria.

Lembrando a invasão policial à casa do líder da Renamo na Beira, em outubro, e os atentados contra a sua comitiva em setembro, o académico moçambicano observa que foi instalado um clima de desconfiança no que respeita à segurança de Dhlakama, uma situação que pode condicionar a saída do líder da Renamo das matas para dialogar.

"O líder da Renamo não vai sair das matas para dialogar enquanto não sentir que há instituições credíveis que garantam a sua segurança", afirmou o politólogo, que questiona a razão da nova abordagem do Governo moçambicano para a resolução da crise política em Moçambique.

João Pereira alerta para as consequências desta crise política, considerando que Moçambique corre o risco de acabar submerso numa guerra étnica e atrasar ainda mais o desenvolvimento do país.

"Eu temo que isto acabe numa guerra entre o sul, centro e norte do país", declarou o académico, acrescentando que os desafios económicos que o país enfrenta, com oscilação dos preços das matérias-primas no mercado internacional e as calamidades naturais, já são problemas suficientes.

"É urgente, é preciso vontade política de ambas as partes para ultrapassarmos esta questão", reiterou.

Esta é a segunda vez em menos de um ano que a polícia moçambicana realiza uma operação em residências do líder da Renamo sem mandado judicial, tendo, no episódio do ano passado na Beira, admitido a inexistência de uma ordem judiciária.

A crise política em Moçambique agravou-se nas últimas semanas, com o registo de vários ataques nas principais estradas do país atribuídos ao maior partido de oposição.

Além de uma vaga de refugiados para o Malaui, país vizinho, as confrontações entre forças de defesa e segurança e o braço armado maior partido de oposição já provocaram um número desconhecido de vítimas mortais.

A Renamo ameaça governar à força nas seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014, acusando o partido no poder, a Frelimo, de ter protagonizado uma fraude eleitoral no último escrutínio.

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