Chernobyl: Sem humanos, transformou-se numa reserva única

Trinta anos depois da pior catástrofe nuclear civil da história, a zona de exclusão em torno da central de Chernobyl, Ucrânia, abandonada pelos habitantes, transformou-se numa reserva única e cheia de animais selvagens.

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Lusa
25/04/2016 08:15 ‧ 25/04/2016 por Lusa

Mundo

30 anos

Da zona de exclusão, num raio de 30 quilómetros em redor da central, foram retiradas mais de 130 mil pessoas nos dias imediatos à explosão, a 26 de abril de 1986.

Pode parecer estranho que a área de Chernobyl se tenha tornado num refúgio para vários animais, de alces, veados, castores e mochos, a espécies mais exóticas como ursos castanhos, linces e lobos. Mas sem pessoas para os caçar ou destruir o habitat, a vida selvagem está a expandir-se, não obstante os elevados níveis de radiação ainda presentes.

Apesar de uma esperança de vida mais curta e de uma taxa de reprodução menos elevada devido aos efeitos da radiação, o número e variedade aumentaram a um ritmo inédito depois da queda da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1991.

Num raio de dez quilómetros em redor da central, encerrada em 2000, o nível de radiação continua a atingir 1.700 nanosieverts por hora, um valor dez a 35 vezes superior à norma observada nos Estados Unidos.

Cerca de dez quilómetros quadrados de floresta de pinheiros que rodeavam a central foram destruídos pouco depois da catástrofe, devido à absorção de níveis elevados de radiação e as diferentes aves, roedores e insetos que abrigavam desapareceram.

O local da "floresta vermelha", assim chamada por causa da cor das árvores murchas, foi limpo com 'buldozers' e os pinheiros mortos enterrados como resíduos nucleares.

Uma nova floresta de pinheiros e bétulas cresceram desde então no mesmo lugar. E a natureza, como sempre, adaptou-se.

As espécies dependentes de resíduos deixados pelos humanos desapareceram, como cegonhas brancas, pardais ou pombos. Mas as espécies indígenas que tinham prosperado na flora luxuriante, muito antes da tragédia, regressaram: lobos, ursos, águias.

"Quando as pessoas saíram, a natureza regressou", resumiu Denis Vichnevski, engenheiro-chefe da zona de exclusão e zoólogo.

"A radiação está por todo o lado e tem efeitos negativos. Mas é menos significativa que a intervenção humana", disse.

Marina Chkvyria, investigadora do instituto de zoologia Schmalhausen, que supervisiona a zona, alertou para os efeitos negativos para os animais da presença de numerosos turistas e dos funcionários que se ocupam da manutenção da central e da construção do novo sarcófago.

"O contraste entre Chernobyl antes do acidente e 30 anos mais tarde é gritante. Estes animais são provavelmente a única consequência positiva desta terrível catástrofe", afirmou Vichnevski.

Já há relatos da presença esporádica de caçadores furtivos, especialmente do lado ucraniano. As autoridades de Kiev estão a preparar legislação para classificar a área como reserva natural e impedir assim, a caça, entre outras limitações.

A explosão do quarto reator da central de Chernobyl, situada a 120 quilómetros a norte de Kiev, junto à fronteira com a Bielorrúsia, lançou para a atmosfera 200 toneladas de material com uma radioatividade equivalente a entre 100 e 500 bombas atómicas como as de Hiroshima (Japão).

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