A Turquia foi esta noite palco de uma tentativa de golpe de Estado levado a cabo por militares que não tirou Recep Tayyip Erdogan da ‘cadeira’, mas que promete marcar o início de uma nova era de violência no país.
O Presidente da Turquia, em férias numa estância balnear, fez a primeira comunicação ao país com contornos algo bizarros, com uma pivot a mostrar na televisão a declaração do presidente turco através vídeo-chamada num telemóvel, via FaceTime.
Após parte do exército se ter rendido e já regressado de urgência ao país, Erdogan garantiu que continua no poder, assim como o Governo, e que os responsáveis “vão pagar”.
O que aconteceu foi para ele, disse, uma “traição”, mas também um "presente de Deus" que permitirá "limpar" as Forças Armadas turcas.
A noite foi caótica nas ruas, tal como descreveu em declarações ao Notícias ao Minuto, Efkan Akpulat, jovem turco a morar em Istambul. As primeiras notícias surgiram pelas 21h15 e os ânimos só refrearam já depois das 2h00.
Pelo menos um helicóptero militar dos golpistas foi abatido por ordem do primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, que se mantém.
Tanto a capital Ancara como Istambul foram palco de fortes explosões e tiroteios. No aeroporto, que está ainda paralisado, no parlamento, no ministério do interior, nas imediações do palácio presidencial, mas também contra a multidão que protestava.
O exército decretou lei marcial e recolher obrigatório e Erdogan incitou as pessoas a sair à rua e resistir. As pessoas saíram à rua e pelo menos 264 morreram, mais de 1.400 ficaram feridas. Houve, por outro lado, quem aplaudisse o golpe de Estado do exército.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, assegura que não existem "notícias preocupantes" sobre portugueses na Turquia, mas aconselhou os cidadãos portugueses que se encontram no país a permanecerem nas suas residências ou hotéis.
Segundo a Reuters, 1.563 militares foram detidos e pelo menos cinco generais e 29 coronéis foram demitidos das suas funções. Pelo menos 104 foram abatidos, incluindo uma alta patente do Exército que tentou ocupar a sede da emissora pública TRT. Também os jornalistas da CNN Turk foram tomados como reféns.
O primeiro-ministro, Binali Yildirim, anunciou entretanto a nomeação de um novo chefe das Forças Armadas interino, Ümit Dündar, para substituir o general Hulusi Akar foi feito prisioneiro dos golpistas e entretanto resgatado.
Ainda não se sabe ao certo quem orquestrou esta revolta militar. Erdogan acusou Fethullah Gülen, o influente líder religioso exilado nos Estados Unidos. Este nega qualquer envolvimento e já condenou o golpe.
A União Europeia apelou a um "rápido regresso à ordem constitucional na Turquia", num comunicado do presidente do Conselho, Donald Tusk, do da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e da chefe da diplomacia, Federica Mogherini.
A forma como a Turquia ultrapassar esta tentativa de golpe de Estado determinará o futuro das relações com Bruxelas, frisou Tusk, "os desafios da Turquia não podem solucionar-se com as armas".
Este foi o quinto golpe de Estado executados por militares desde 1923.
[Notícia atualizada às 12h37]