"Fizemos progressos excelentes, mas o nosso trabalho está incompleto. Só no ano passado, o saldo global da malária atingiu os 212 milhões de casos e as 429 mil mortes", escreveu a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan, no prefácio do documento.
Publicado anualmente pela OMS, o relatório de 2016 conclui que a taxa de incidência (novos casos) de malária caiu 41% em todo o mundo, entre 2000 e 2015, e 21% entre 2010 e 2015.
Já a taxa de mortalidade diminuiu 62% globalmente entre 2000 e 2015 e 29% entre 2010 e 2015.
Entre as crianças com menos de cinco anos, a taxa de mortalidade terá caído 69% nos últimos 15 anos e 35% nos últimos cinco.
Ainda assim, em 2015, o paludismo matou 303 mil crianças com menos de cinco anos em todo o mundo (70% de todas as mortes).
Entre 2000 e 2015, 17 países eliminaram a malária, ou seja, estiveram pelo menos três anos sem casos indígenas da doença, e seis destes países foram certificados como livres de malária pela OMS.
Além destas, há outras boas notícias destacadas no documento, nomeadamente no diagnóstico e tratamento das crianças e mulheres da África Subsaariana, região que concentra 90% dos casos e 92% das mortes por malária.
Segundo o relatório, em 2015 mais de metade (51%) das crianças com febre que recorreram aos cuidados de saúde públicos em 22 países africanos foram sujeitas a um teste de diagnóstico de malária, quando em 2010 apenas 29% o faziam.
Também a percentagem de mulheres grávidas que receberam as três doses recomendadas de tratamento preventivo da malária aumentou cinco vezes, de 6% em 2010, para 31% em 2015.
A proporção da população em risco na África Subsaariana que dorme sob uma rede mosquiteira tratada com inseticida ou protegida por vaporização residual aumentou de 37% em 2010 para 57% em 2015.
"Estamos definitivamente a ver progressos", afirmou o diretor do Programa Global de Malária da OMS, Pedro Alonso, citado num comunicado da organização.
Contudo, o mesmo responsável alertou que "o mundo ainda está a lutar para alcançar os níveis elevados de cobertura que são necessários para vencer esta doença".
Os autores do relatório confirmam que cerca de 43% da população em risco na África Subsaariana não está ainda protegida pelos métodos primários de controlo do vetor da malária, as redes mosquiteiras e a vaporização residual e em muitos países os sistemas de saúde não têm recursos suficientes e são pouco acessíveis às pessoas mais vulneráveis.
Em 2015, 36% das crianças com febre não foram levados aos serviços de saúde em 23 países africanos.
No relatório, a diretora-geral da OMS considera "uma prioridade urgente" o aumento do financiamento dos programas de controlo da malária.
Segundo o relatório, o financiamento quase estagnou entre 2010 e 2015, ano en que totalizou 2,9 mil milhões de dólares, menos do que metade do objetivo.
"Para alcançarmos as nossas metas globais, as contribuições, tanto das fontes domésticas como internacionais, devem aumentar substancialmente, alcançando 6,4 mil milhões de dólares anuais até 2020", escreve Margaret Chan.
A malária é provocada por um parasita do género Plasmodium, que é transmitido aos seres humanos através da picada de uma fêmea do mosquito Anopheles.
Existem várias espécies, mas o Plasmodium falciparum é o mais perigoso para os humanos e o mais prevalente em África, onde se concentram 90% das mortes pela doença.
Os primeiros sintomas da malária são febre, dores de cabeça e vómitos e aparecem entre 10 e 15 dias depois da picada do mosquito, mas se não for tratada, a malária por P. falciparum pode progredir para uma fase grave e acabar por matar.
O combate à doença passa por uma diversidade de estratégias, que passam pela prevenção, através do uso de redes mosquiteiras impregnadas de inseticida e pulverização do domicílio, assim como pelo diagnóstico e tratamento dos casos confirmados com medicamentos anti-maláricos.
Ainda não existe qualquer vacina para a doença, mas a OMS anunciou no mês passado que a primeira vacina contra a doença será lançada em 2018 na África Subsaariana.