A herdeira que mudou a face da Frente Nacional
Marine Le Pen passou anos a distanciar-se do discurso mais radical do pai para conquistar o eleitorado que já lhe permitiu vencer eleições e pode dar-lhe nas presidenciais a vitória que Jean-Marie Le Pen não conseguiu.
© Reuters
Mundo Marine le Pen
Confortada com os resultados da Frente Nacional nas europeias de 2014 e nas regionais de 2015, em que foi o partido mais votado, com 25% e 28%, Le Pen, 48 anos, quer contradizer as sondagens que lhe dão a vitória na primeira volta e a derrota na segunda.
O pai, candidato à presidência em 2002, passou à segunda volta com apenas menos três pontos percentuais que Jacques Chirac, mas acabou batido pelo histórico político de direita, por 82,2% contra 17,7%.
A filha trava agora a segunda batalha pela presidência, depois de em 2012 ficar em terceiro na primeira volta, com 17,7%, mas conta agora com um eleitorado mais consolidado e mais amplo e um panorama político partidário mais fragmentado.
A fidelidade do seu eleitorado vai ao ponto de não se deixar afetar pelas acusações de financiamento ilegal do partido e as respetivas sanções e pedidos de levantamento da imunidade pelo Parlamento Europeu que marcaram a presente campanha.
Programa e discurso distanciam-se das referências ao Holocausto que levaram o pai a tribunal, depois de, ao assumir a liderança do partido em 2011, ter afastado os dirigentes mais alinhados com o discurso mais radical, antissemita, saudosista da colonização e do colaboracionismo.
Formou uma nova "guarda pretoriana" mais jovem, na qual se destacam o marido, Louis Aliot, e o seu braço direito, Florien Philippot.
Nesta campanha, Le Pen capitalizou a frustração manifestada por muitos franceses com o desemprego, a imigração ou a insegurança, assim como o "patriotismo" económico, que se tornou o seu tema preferido na campanha, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos como exemplo.
Propõe a saída do euro, a taxação das importações, a suspensão dos acordos de livre circulação Schengen, a expulsão dos estrangeiros radicalizados.
"Se tivesse de me definir, diria muito simplesmente que sou intensamente, orgulhosamente, fielmente e evidentemente francesa. Sinto os insultos a França como se me fossem dirigidos diretamente", afirma num vídeo de propaganda.
Palavras como estas são aplaudidas e repetidas pelos apoiantes, mas Le Pen foi recebida com protestos em comícios em Lille (norte), Ajaccio (Córsega) e Nantes (oeste).
A primeira volta das presidenciais de França realiza-se no domingo, 23 de abril. Os dois candidatos mais votados disputam uma segunda volta, marcada para 7 de maio.
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