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Resultados das eleições em Angola vão ser "cozinhados em laboratório"

O ativista e 'rapper' luso-angolano Luaty Beirão considerou hoje que os resultados das eleições gerais de Angola, a 23 de Agosto, vão ser "cozinhados num laboratório" e que o ato eleitoral não será "nem democrático, nem justo nem transparente".

Resultados das eleições em Angola vão ser "cozinhados em laboratório"
Notícias ao Minuto

18:06 - 11/08/17 por Lusa

Mundo Luaty Beirão

"Na minha perspetiva, os resultados eleitorais das últimas eleições - e não duvido que nestas esteja a ser preparado a mesma coisa - foram cozinhados em laboratório. decidiu-se o que se atribuiria a qualquer um e atribuiu-se. Ponto final.

"Não foi o reflexo do que foi colocado nas urnas. Dizem que eu só critico, mas há muitas evidências, muitas queixas apresentadas. muitos documentos que existem", disse Luaty Beirão à agência Lusa em Luanda, à margem de um exercício de simulação de voto na Universidade Católica de Angola.

Para o ativista, que tem sido uma das vozes e faces mais críticas do governo angolano, "onde há dúvida, cresce a perceção de que [as eleições] não correram bem".

"Eu não estou a ver as coisas a correrem de melhor maneira desta vez. E não duvido que, mais uma vez, os resultados vão ser cozinhados", realçou.

Vários partidos têm vindo a queixar-se de que recebem denúncias de cidadãos que estão a ser informados de que o seu local de votação é muito diferente daquele que pensavam estar inscritos. Por vezes noutras províncias.

"Quanto ao momento atual de as pessoas verificaram onde foram colocadas para votar, já começo a ouvir vários rumores - tenho poucos dados concretos, não posso dizer que é uma coisa generalizada ou que esteja a afetar muita gente - mas começam a ser vozes a mais a queixar-se que o seu nome está a ser colocado em listas longe da sua residência. Isto é o filme (das eleições) de 2012 a repetir-se", disse Luaty Beirão.

Isto vai fazer com que exista "de novo aquele fenómeno de abstenção artificial", disse o rapper, sublinhando que "as pessoas que querem ou queriam votar" não vão fazê-lo devido às dificuldades em chegar a esses locais.

A prática "favorece quem consegue controlar a contagem, quem organizou tudo isto e quem propiciou que as coisas assim acontecessem", acusou.

"Devo dizer uma coisa: o nível de organização que se mostra capaz de fazer - verificação por SMS, e por coordenadas geodésicas, tudo bem configurado - mostra que há uma capacidade para fazer bem. Se não se faz bem é porque não se quer, não é só incompetência. É porque não se quer fazer", salientou Luaty Beirão.

O sistema da Comissão Nacional Eleitoral angolana (CNE) permite que os eleitores possam verificar o local de voto enviando um SMS com o seu número de eleitoral, havendo uma expectativa de que a mesa de voto atribuída a cada eleitor fosse próxima do local de residência fornecido no momento do registo eleitoral.

"E se pegarmos no grupo de pessoas que estão a ser colocadas em sítios diferentes [longe das suas residências] eu duvido que encontremos pessoas que pertencem às listas do partido que governa este país há 42 anos. Tenho sérias dúvidas, não posso acusar, mas tenho sérias dúvidas", criticou o ativista luso-angolano.

Para Luaty Beirão, as eleições em Angola têm sido livres, "no sentido em que ninguém é propriamente forçado com uma pistola a ir às urnas e as pessoas vão de livre e espontânea vontade".

"Mas para aí. Aí acabou. E mesmo 'livres' é entre aspas, a partir do momento em que a pessoa que quer usar dessa liberdade fica impossibilitada porque o seu nome saiu numa lista distante. Liberdade entre aspas. O resto não se aplica: nem democráticas, nem transparentes, nem justas", sintetizou.

Luaty Beirão considera que sai algo de "positivo" nestas eleições: a forma de possibilitar às pessoas a verificação da sua localização [para votar].

"É um indício de que quando nós quisermos mesmo fazer eleições a sério já vamos estar capacitados para o fazer. Porque há pessoas formadas, condições técnicas e tecnologia ao serviço do sistema eleitoral. Portanto, quando quisermos sei que podemos fazer. Mas as pessoas que estão à frente não querem", concluiu.

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