E, 16 anos depois, persistem teorias da conspiração sobre 11 de Setembro

Para muitas pessoas, as dúvidas sobre o que de facto aconteceu no 11 de Setembro mantêm-se. A Comissão criada para investigar o que se passou naquele fatídico dia não alterou isso e são várias as teorias da conspiração sobre os atentados que abalaram os Estados Unidos.

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Notícias Ao Minuto
11/09/2017 12:50 ‧ 11/09/2017 por Notícias Ao Minuto

Mundo

Efeméride

Há feridas e cicatrizes que o tempo não consegue sarar. Passados 16 anos do trágico 11 de Setembro de 2001, para os familiares das quase três mil vítimas mortais, para amigos, colegas de trabalho, bombeiros, polícias, voluntários e para os nova-iorquinos que experienciaram aquele momento histórico e traumatizante, a dor permanece. Nova Iorque não mais voltou a ser a mesma sem as suas duas Torres Gémeas.

Como seria de esperar face a um acontecimento desta magnitude, as dúvidas sobre o que se passou são muitas.

A versão oficial é por demais conhecida e para que as dúvidas ficassem esclarecidas, o então presidente George W. Bush criou uma Comissão para analisar e investigar a sucessão de acontecimentos naquele dia, desde os aviões que embateram nas duas torres do World Trade Center, ao avião que atingiu o Pentágono, mas também os factos em torno do voo 93, no qual um grupo de passageiros decidiu intervir, gorando os planos dos terroristas. O avião acabou por cair na Pensilvânia.

No entanto, nem o relatório final da Comissão de Inquérito do 11 de Setembro esclareceu as questões que muitas pessoas tinham. As teorias da conspiração em torno do 11/9 são muitas e assumiram as mais diversas formas: fizeram-se documentários, escreveram-se livros, criaram-se blogs e no You Tube são vários os vídeos que pretendem explicar o que poderá ter acontecido.

Não é difícil perceber porquê, como explicou ao Notícias Ao Minuto João Monteiro, vice-presidente da COMCEPT, a Comunidade Céptica Portuguesa. Há uma explicação emocional. "As pessoas quiseram compreender o que tinha acontecido, como tinha sido possível um atentado daquela natureza e quem estaria por trás do atentado, que foi um acontecimento traumatizante para milhares de cidadãos e num contexto em que as informações oficiais eram escassas", afirma João Monteiro.

De seguida aponta também para "a filosofia anti-sistema e anti-governo muito prevalecente no contexto norte-americano, que está na origem da maioria das teorias da conspiração que aludem a um controlo extraordinário de informações, ou acontecimentos, por parte de um governo ou organização".

Um estudo revelado pelo Huffington Post no ano passado dá conta de que 54,3% dos norte-americanos acreditam em teorias da conspiração no 11/9. Mas convém realçar que esse mesmo estudo verificou que quase metade crê que não se sabe toda a verdade sobre o assassinato do presidente Kennedy e que mais de 40% acreditam em encontros com extraterrestres.

A relevância de 'Loose Change'

Um dos trabalhos que mais se destaca sobre teorias da conspiração no 11 de Setembro é o documentário 'Loose Change' de Dylan Avery, que foi lançado em 2005 e que foi editado diversas vezes até 2009. Este documentário tornou-se um fenómeno global e questiona a versão oficial dos acontecimentos. Coloca diversas questões e lança várias hipóteses para o que 'verdadeiramente' terá acontecido.

O filme sugere que os atentados do 11 de Setembro não foram obra de Bin Laden e da Al-Qaeda, mas que foi antes um 'inside job' - um trabalho interno de membros importantes do governo norte-americano. O 'Loose Change' sugere que as torres do World Trade Center caíram devido a explosões controladas e não como resultado de terem sido atingidas pelos aviões e do fogo consequente. Afirma que a família Bush lucrou com a queda das torres, já que Marvin Bush, irmão de George W. Bush, fazia parte da administração da empresa que fez o seguro das torres.

Sobre o ataque no Pentágono, questiona sobrese algum avião embateu no edifício, levantando a hipótese de ter sido antes atingido por um míssil. Uma das teorias mais arrojadas do documentário envolve o voo 93, que segundo as teorias de 'Loose Change' não caiu, terá supostamente aterrado no aeroporto de Cleveland que teria sido evacuado pouco antes.

O documentário tornou-se a força galvanizante do 9/11 Truth Movement, o movimento que engloba as organizações e indivíduos que questionam a versão oficial dos acontecimentos. Uma das organizações que se insere neste movimento é a Architects and Engineers for 9/11 Truth. Esta organização, que como o nome indica é composta por vários arquitetos e engenheiros, defende entre outras teorias que houve uma demolição controlada do WTC 7, o outro edifício do complexo World Trade Center que caiu.

O livro 'Beyond Misinformation' foi escrito por um dos membros desta organização, Ted Walter. O livro publicado em 2015 faz uma análise de todos os edifícios que colapsaram devido ao fogo e destaca que apenas os edifícios do WTC sofreram um colapso total. Ted Walter pergunta ainda: se o motivo dos colapsos foi o fogo "como é que a torre que foi atingida em último lugar foi a primeira a cair?".

John Lear, um antigo piloto de aviões e filho do homem que desenvolveu o LearJet, é um dos defensores da 'No Planes Theory'. Esta teoria sugere o que muitos podem considerar impensável: que nenhum avião foi contra as torres. John Lear defende que seria impossível os dois Boeing 767 atingirem as torres a velocidades tão elevadas - entre os 795 km/h e os 943 km/h.

"O piloto perderia o controlo do avião, que provavelmente rodaria em círculos", afirma Lear.

Morgan Reynolds, professor de economia na Texas A&M University e que foi economista-chefe do Departamento do Trabalho entre 2001 e 2002, é outro dos defensores desta teoria. Foi o primeiro funcionário de relevo da Administração Bush a dizer publicamente que acreditava que o 11 de Setembro foi um trabalho interno.

Numa entrevista ao Folha de São Paulo disse que as imagens dos aviões a embaterem nas torres são apresentações "falsas", porque "um avião não pode atravessar um prédio de aço e betão como se fosse feito de ar fino". Acrescentou ainda que a Comissão de Inquérito do 11 de Setembro "nunca tentou provar nada, porque é impossível provar uma mentira".

Provas das teorias da conspiração são "fracas"

A verdade é que se há muitas pessoas que acreditam que não está tudo explicado e que o governo dos Estados Unidos pode ter desempenhado um papel nos atentados do 11 de Setembro, também há um número muito elevado de pessoas que duvida das teorias apresentadas. João Monteiro da COMCEPT afirma não acreditar nas teorias da conspiração do 11 de Setembro, "pelas fracas provas" apresentadas.

"Se a versão oficial fosse falsa, atendendo ao número de pessoas supostamente envolvidas, já alguém por esta altura teria denunciado o caso. O que distingue uma verdadeira conspiração de uma teoria da conspiração é que a primeira acaba-se sempre por saber, porque alguém há-de falar. Tendo passado 16 anos desde o acontecimento, já houve tempo para que alguém envolvido tivesse falado. Quanto mais tempo passar, maior a probabilidade de sabermos que a versão oficial é possivelmente a mais correta", diz João Monteiro.

O responsável da COMCEPT aborda ainda algumas das teorias já referidas. "Uma das versões alega que as torres caíram devido a detonações controladas e que os aviões que iriam vazios teriam servido para disfarçar esse facto, mas omitem-se as evidências de que os aviões iam tripulados e que não há praticamente evidências de detonações para lá de relatos de pessoas (numa escala de força de evidência, os relatos pessoais são dos menos credíveis)".

A hipótese de um 'inside job' também não convence João Monteiro. "Outra versão acusa o governo de ter estado por trás do acontecimento, mas não responde ao facto de nenhum governo querer perder cidadãos, deixar outros tantos feridos e ainda deixar a sua economia fragilizada".

Para que melhor se possa compreender o fenómeno das teorias da conspiração de uma forma geral, João Monteiro recomenda a leitura de alguns livros, como 'Não se deixe enganar', publicado pela COMCEPT, ou 'Porque acreditam as pessoas em coisas estranhas', de Michael Shermer.

Quando o relatório da Comissão de Inquérito do 11 de Setembro foi publicado, em 2002, não foram divulgadas 28 páginas. Estas páginas continham informação considerada confidencial. Isto só reforçou ainda mais a especulação em torno do conteúdo dessas páginas e até ajudou na argumentação dos defensores de teorias da conspiração. No entanto, no ano passado a Administração Obama divulgou estas páginas, que esclarecem que não há uma ligação entre autoridades sauditas e os terroristas responsáveis pelos atentados.

As teorias da conspiração do 11 de Setembro vão continuar a subsistir, assim como tantas outras que envolvem acontecimentos de grande impacto emocional e histórico. Tal como João Monteiro referiu, o tempo está do lado da versão oficial. Passaram 16 anos e nenhuma destas teorias foi suficientemente forte para a abalar. Mas também parece certo que os teóricos vão continuar a sua busca pela 'verdade'.

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