Ao início da madrugada de segunda-feira, o governo regional catalão anunciou que 90% dos 2,22 milhões de catalães que votaram no domingo escolheram o "Sim", a favor da independência da Catalunha, enquanto oito por cento dos votantes rejeitaram a independência e o resto dos boletins tiveram votos brancos ou nulos.
O dia do referendo começou, muito cedo, com o executivo regional a reconhecer que não tinha condições para realizar o referendo como tinha planeado e, de forma surpreendente, a anunciar um censo universal e a possibilidade de votar mesmo que sem envelope, com boletins impressos em casa, urnas que mudavam de assembleias de voto e sem clarificar o processo de contagem, desrespeitando assim a própria lei do referendo, suspensa pelo Tribunal Constitucional.
Perante a inação dos Mossos d'Esquadra (polícia regional), que não impediram o funcionamento de muitas assembleias de voto como tinha sido ordenado pelo governo em Madrid, foram chamadas a Guardia Civil e a Polícia Nacional espanhola, que protagonizaram os maiores momentos de tensão para tentar impedir o referendo.
As autoridades de saúde catalãs afirmaram, ao final da noite de domingo, que pelo menos 844 pessoas foram assistidas na sequência das cargas policiais.
Sete juízes catalães abriram investigações à atuação da polícia regional por não impedir a votação, como ordenara o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha. Por outro lado, a Generalitat (governo regional catalão) denunciou perante a justiça as duas polícias nacionais.
O porta-voz do governo regional, Jordi Turull, admitiu que "não foi possível votar com normalidade", já que foi necessário fechar 319 assembleias de voto, devido à intervenção policial.
O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, fez uma declaração, no domingo à noite, em que começou por negar que se tenha celebrado um referendo de autodeterminação na Catalunha, além de ter responsabilizado aqueles que "promoveram a rutura da legalidade e da convivência".
O chefe do executivo de Madrid reiterou a sua abertura para o debate: "Sempre ofereci diálogo honesto e sincero, mas sempre dentro da lei e dentro do marco da democracia".
Rajoy anunciou que pedirá hoje para comparecer no parlamento espanhol para refletir sobre o futuro com os partidos com assento parlamentar.
O primeiro-ministro elogiou a atuação das polícias nacionais - "Fizemos o que tínhamos de fazer" -, mas nunca se referiu às cargas policiais nem aos feridos.
Por seu turno, o chefe do governo regional catalão, Carles Puidgemont, destacou que os catalães ganharam "o direito a ter um Estado independente" e anunciou que remeterá ao parlamento regional o resultado da votação.
O dirigente catalão também repudiou o "uso injustificado, irracional e irresponsável da violência por parte do Estado espanhol" e defendeu que a União Europeia não pode ignorar o que disse ser a violação dos direitos humanos do povo da Catalunha.
Entretanto, cerca de 40 organizações sindicais, políticas e sociais da Catalunha apelaram para a realização de uma greve geral na região na terça-feira, em reação à intervenção do Estado espanhol contra o referendo independentista.