Os deputados do Partido Social-Democrata (PSD) questionaram, esta sexta-feira, o ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social quanto à situação em que se encontra Rui Rosinha, um dos bombeiros que ficou ferido nos incêndios do verão do ano passado.
A questão colocada por quatro deputados do PSD, incluindo a ex-vice-presidente do partido, Teresa Morais, e a atual presidente da Juventude Social-Democrata, Margarida Balseiro Lopes, diz respeito à pensão de invalidez do soldado da paz.
Rui Rosinha, da corporação de bombeiros de Castanheira de Pera, esteve quase três meses em coma. Sofreu paragens cardiorrespiratórias, teve que fazer hemodiálise, sofreu uma úlcera, foi sujeito a várias cirurgias e ainda está a recuperar. Mal consegue andar e precisa de ajuda para tudo.
“Desde 14 de dezembro, dia em que regressei a casa, que passo a vida em consultas e fisioterapia”, disse ao Notícias ao Minuto o bombeiro de 40 anos que está com uma incapacidade física de 85%.
A sua futura pensão de invalidez será de 267 euros, mas Rui Rosinha não quis tocar no tema. “Neste momento vou remeter-me ao silêncio, estou numa situação em que não posso comentar”, disse.
Quem não se escusou a falar no assunto foram os deputados do PSD que, numa pergunta enviada hoje ao ministro Vieira da Silva, questionaram o responsável se “existe, no atual quadro de apoios sociais, alguma possibilidade de apoio financeiro a este cidadão que possa acrescer à sua futura pensão de invalidez de 267 euros”.
E caso não exista essa possibilidade, os deputados perguntam ao ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social se “equaciona alguma nova forma de apoio dirigido a estes casos em que um cidadão incapacitado não tem, nem hoje, nem terá no futuro, os meios necessários à sua digna subsistência e à continuação dos tratamentos que a sua condição exige”.
“Estou dependente de terceiros para ir à casa-de-banho e para me vestir”
Rui Rosinha© Rui Oliveira / Global Imagens
O testemunho de Rui Rosinha não é novo, mas continua a ser emocionante. Este soldado da paz circulava no veículo florestal de combate a incêndios dos bombeiros que colidiu com uma viatura em fuga na Estrada Nacional 236-1, a agora apelidada ‘estrada da morte’ que faz a ligação entre Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera.
Os cinco bombeiros ficaram feridos naquele fatídico 17 de junho, sendo Rui o que apresentava o prognóstico mais grave. Pior sorte teve Gonçalo Conceição que não resistiu e acabou por morrer.
Quase um ano depois da tragédia, Rui Rosinha ainda tem um longo caminho de recuperação pela frente.
Neste momento está “dependente de terceiros para quase tudo: ir à casa de banho, mudar de roupa, tomar banho”, mas, felizmente, conta com a ajuda incondicional da mulher Marina Rodrigues.
“Ela acompanha-me em tudo. É o meu motorista para todo o lado… não sei como é que vai ser quando ela for trabalhar”, confessa em declarações ao Notícias ao Minuto.
Marina está de “baixa psiquiátrica” pois “passou por muita coisa, por muitos momentos difíceis”. Mas não é a única. Os filhos do casal, de 10 e 13 anos, também “têm sofrido muito” e Rui Rosinha sabe que “agora é que se vai começar a ver quais os traumas com que eles ficaram”.
A chegada do calor vai trazer incêndios florestais que, por sua vez, vão reanimar a memória coletiva e estas e “outras crianças” vão reviver a tragédia do ano passado.
Os filhos de Rui estão a ser acompanhados em consultas de pedopsiquiatria, mas há outras crianças que não têm qualquer apoio porque as “escolas não estão preparadas”.
“Os psicólogos [das escolas] vão e vêm e toda a gente sabe que as situações de stress pós-traumático têm que ser tratadas a longo prazo. As escolas não estão preparadas para isso e as crianças vão crescer com estes traumas e vão continuar a sofrer no futuro”, lamentou.
Por falar em futuro, Rui diz que “não vai ser necessariamente mau”, mas vai ser “diferente” o suficiente para ter que se “adaptar” às dificuldades físicas com que se depara e se vai deparar para sempre.
Do futuro faz parte também a corporação dos bombeiros. Rui Rosinha não sabe como, mas sabe que “gostaria de continuar ligado” à associação humanitária de Castanheira de Pera. Como funcionário reconhece que será difícil, pois “quem vai para uma corporação não pode dar só metade ou um terço de si, tem que dar tudo”.