Em conferência de imprensa em Lisboa, o presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Enfermeiros (FENSE), José Correia Azevedo, considerou que a adesão à greve ultrapassou as expectativas dos sindicatos, que era de 60 a 70%, tendo sido de 95%, o que significa a paragem de cerca de 35 mil enfermeiros num universo de 41 mil.
José Azevedo congratulou-se com o facto de a população portuguesa ter compreendido e aceitado, "de forma estoica e pacífica", o protesto dos enfermeiros, apesar dos constrangimentos causados no atendimento dos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e responsabilizou o Ministério da Saúde pelo impasse nas negociações com vista à reestruturação da carreira de enfermagem.
Se as reivindicações da FENSE não forem acolhidas pelo Governo, José Azevedo admite que a classe "voltará à luta", com "ataques mais evidentes" e até com medidas mais extremas, como a "fuga para Espanha".
Os enfermeiros associados da FENSE iniciaram, na segunda-feira, uma greve nacional de cinco dias em protesto contra o impasse na negociação do acordo coletivo de trabalho, que começou há um ano.
José Correia Azevedo sustentou que o povo português precisa que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) "retome rumos mais seguros e sérios e que não seja um negócio" e que a restruturação da carreira de enfermagem seja concretizada pelo Governo.
Como "ponto de honra", a FENSE exige que a carreira de enfermagem passe a contemplar três categorias: enfermeiro, especialista e diretor.
"É o ponto de honra do qual não abdicamos", enfatizou o presidente da FENSE, lembrando que os enfermeiros são "a base e a estrutura do SNS", pelo criar um sistema sem contemplar esta classe é como "construir uma casa em cima de areia movediça".
Na ocasião, o presidente da FENSE lamentou que o movimento sindical dos enfermeiros esteja dividido, já que existe um outro sindicato afeto à CGTP que está a negociar numa outra mesa com o Ministério da Saúde.
Questionado sobre a notícia hoje avançada pelo Jornal de Notícias de que a bastonária dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco, levou à aprovação de um subsídio de função para os dirigentes nacionais e regionais da Ordem dos Enfermeiros, numa assembleia-geral no Funchal, em que estiveram presentes apenas 100 enfermeiros, José Correia Azevedo disse "não concordar com o que foi decidido" apesar de não questionar a legitimidade do ato.
"Podem ganhar mais. Não discordo disso, nem das alcavalas que têm", disse, alegando que o aumento não é exagerado tendo em conta que a Ordem dos Enfermeiros tem 10 milhões de euros no banco.
Ressalvou, contudo, que a assembleia-geral que decidiu tais aumentos devia ter sido realizada em Lisboa e não no Funchal, onde a comparência dos membros é dificultada pela distância.