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Praxes violentas? Marinha nega mas denúncias "não são novidade"

Pais de alunos denunciaram praxes violentas na Escola Naval. Fizeram-no de forma anónima através das redes sociais. Marinha nega a existência de praxes naquela instituição e sugere que denúncias podem ser uma forma de os alunos manifestarem a sua inadaptação a um ensino que é mais exigente. Bloco de Esquerda já pediu esclarecimentos ao Ministério da Defesa.

Praxes violentas? Marinha nega mas denúncias "não são novidade"
Notícias ao Minuto

10:50 - 13/12/18 por Melissa Lopes

País Ensino

Pais de alunos do 1.º ano da Escola Naval denunciaram, de forma anónima, através de uma mensagem privada à Marinha - situação reportada esta quinta-feira pelo Diário de Notícias - que os filhos teriam sido alvo de praxes violentas, que incluíam tortura do sono, banhos de água fria a meio da noite, carregar pesos com a cabeça, estarem nus nas paradas, por exemplo.

Ora, contactado pelo Notícias ao Minuto, o porta-voz da Marinha disse que, feitas as averiguações - este ano mas também noutros - não “foi detetada matéria” coincidente com o denunciado, lembrando que naquela instituição as praxes não são autorizadas.

Para o comandante Pereira da Fonseca, estas denúncias anónimas – que acontecem todos os anos no arranque do ano letivo – prendem-se com alguma inadaptação e frustração dos alunos perante um ensino que é mais exigente do que o ensino superior ‘normal’.

“O que é exigido a um aluno da Escola Naval não é o mesmo do que aquilo que é exigido a um aluno do ensino superior”, começa por explicar, em declarações ao Notícias ao Minuto.

Além de se lhes exigir que sejam bons alunos (não transitam às disciplinas se não tiverem notas inferiores a 12 valores, por exemplo), têm de aprender a ser bons militares. E, por isso, dada a exigência, “pontualmente existem alunos que não se conseguem adaptar” e que têm “receio” de comunicar essa frustração ao corpo docente da escola que tem gabinetes próprios para tal, preferindo fazê-lo nas redes sociais, através dos pais. "Não percebemos porque não o fazem diretamente", lamenta o responsável. 

Uma das denúncias em causa, publicada no Facebook da Escola Naval – relata situações de tortura do sono. “A praxe torna-se abusiva ao ponto de os alunos de sono, dormindo uma média de seis horas por semana, sendo acordados constantemente a meio da noite para participarem em atividades ‘supostamente’ desconhecidas por superiores”, relata este pai que se identifica como Mário Antunes. Diz ainda que os cadetes são obrigados a correr descalços em terra batida e a rastejarem na mata “totalmente” despidos.

O porta-voz da Marinha explica que estas denúncias – algo que “não é novidade” - acontecem todos os anos com “um dois casos”, mas que “depois tudo corre normalmente”. Tanto é que, este ano, apenas um aluno desistiu no 1ºano, e foi porque transitou para a Academia Militar. Nos anos anteriores, 2016 e 2017, 4 e 2 alunos desistiram, respetivamente.

Por outro lado, Pereira da Fonseca refere que sempre que se registam “comportamentos desviantes” daquilo que é o padrão, os alunos são sancionados disciplinarmente e que, dependendo da gravidade, estes podem ser expulsos da instituição.

No que toca às situações denunciadas, o que este responsável admite é que os alunos estejam, pontualmente, a tomar banho com água fria, dado que o edifício está a ser alvo de “profundas remodelações”. E isso, notou, não é só para alunos do primeiro ano. “É para todos”.

Existe "praxe pura e dura". Cadetes tratados "como animais"

Ao Notícias ao Minuto, uma fonte, que não se quis identificar, confirmou que na Escola Naval existem praxes tendo sido dado um nome "pomposo" às mesmas, dada a carga negativa associada ao termo. "O enquadramento é praxe pura e dura".

Os alunos do 1º. ano são acordados a meio da noite e vão para tanques de água gelada durante imenso tempo", confirmou. Mais: "Muitas vezes os cadetes são tratados como autênticos animais. Não podem ter opinião própria". E, acrescenta a mesma fonte, "no meio de tudo, ainda têm que tirar boas notas, o que se torna difícil". 

A tortura do sono a que as denúncias fazem referência envolvem precisamente as atividades noturnas e a obrigatoriedade de acordar às 7 horas, hora da alvorada. "Muitas vezes, os alunos passam grande parte da noite acordados (...) e não dá para ficar a dormir mais um bocado", sob pena de serem castigados. Neste esquema de praxe, "enquadramento", quem exerce a praxe são, geralmente, alunos do 4º. ano, os denominados "enquadrantes". 

"E quando a autoridade máxima da Escola Naval diz que não sabe que há praxes está a mentir", uma vez que "os próprios já passaram pelo primeiro ano". 

Sobre esta matéria, o Bloco de Esquerda "já pediu esclarecimentos ao Ministro da Defesa, esta manhã, numa pergunta por escrito que endereçou ao Governo", fez saber o deputado Luís Monteiro. 

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