Greve impediu Hospital Santa Maria de receber doente com lesão grave

O hospital Santa Maria justificou o não ter recebido um doente grave que acabou por ser enviado para Gaia referindo que está a atravessar um período de funcionamento que "não é normal", numa alusão à greve dos enfermeiros.

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Lusa
14/12/2018 16:38 ‧ 14/12/2018 por Lusa

País

Lisboa

Um doente com uma lesão grave numa mão, decorrente de um acidente de trabalho com uma rebarbadora, foi enviado do hospital S. José, Lisboa, para Gaia por avaria de um microscópio e por indisponibilidade de outros dois hospitais na capital, o Santa Maria e o São Francisco Xavier.

"É público que estamos a atravessar um período que não é de funcionamento normal. Mas anteriormente a este caso, tínhamos aceite dois outros casos de intervenções também de elevada excelência, com grande durabilidade e mesmo com restrição na nossa capacidade operacional cirúrgica. Desta vez não era possível alienarmos oito horas de uma das três salas que tínhamos para responder à urgência", afirmou à agência Lusa o presidente da administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que integra o Santa Maria.

O Centro Hospitalar de Lisboa Norte é um dos cinco do país onde decorre a greve de enfermeiros em blocos operatórios, que se arrasta há três semanas e vai durar até final do mês.

De acordo com o administrador, a decisão de não receber o doente vindo do São José foi tomada pela equipa clínica e mereceu a concordância da administração, embora Carlos Martins rejeite falar em recusa do doente.

"Não recusámos o doente. À terceira não conseguimos, pela programação de urgência que tínhamos. Embora seja inopinada, temos diariamente 1.000 doentes em urgência e respondemos de Melgaço a Maputo. A avaliação feita foi essa e o doente foi tratado com o que de melhor há no Serviço Nacional de Saúde (SNS)", acrescentou Carlos Martins.

Segundo documentos a que a agência Lusa teve acesso, o caso aconteceu na quarta-feira com um homem de 38 anos, que sofreu um trauma grave na mão direita que necessitava de cirurgia.

O homem foi enviado do hospital de Setúbal para o hospital de São José, onde deu entrada cerca das 18:00.

A equipa de cirurgia plástica e reconstrutiva considerou que "dada a avaria do microscópio CPR e necessidade de meios de grande ampliação para sucesso cirúrgico" não existiu "capacidade para intervenção" no hospital S. José, "à semelhança [do que aconteceu] desta semana e semanas anteriores".

De acordo com os documentos a que a Lusa teve acesso, o caso foi discutido com o chefe de equipa de urgência e com a direção clínica e foi decidida a transferência do doente "para outra instituição com capacidade para a intervenção".

O hospital de S. José tentou transferir o doente para o hospital de Santa Maria (Centro Hospitalar Lisboa Norte), que recusou. Depois, foi feita nova tentativa para o Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (hospital S. Francisco Xavier), mas esta unidade tinha uma intervenção a decorrer e não pôde também receber o doente.

Pelas 21:00, três horas depois de ter dado entrada em S. José, o serviço de cirurgia plástica e reconstrutiva de Vila Nova de Gaia aceitou receber o doente.

O processo do doente indica que a alta foi decidida às 22:35, ou seja, quatro horas depois de ter dado entrada no S. José, tendo sido determinada a sua transferência para Gaia.

Segundo disse à agência Lusa um profissional de saúde do hospital de Vila Nova de Gaia, o doente acabou por entrar no bloco operatório em Gaia já depois das 07:00 de hoje.

Entretanto, O Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, a que pertence o São José, afirmou já que deu indicações para a compra de um microscópio cirúrgico.

Em resposta à Lusa sobre o caso, a administração justificou ainda que as transferências deste tipo de doentes, quando necessárias, são "equacionadas entre hospitais com serviços de urgência de cirurgia plástica idóneos e com a capacidade de resposta que a complexidade da situação clínica exige".

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