Atuação da PSP. "Vídeo só mostra a parte que interessa aos desordeiros"

A Polícia de Segurança Pública, na pessoa dos seus agentes, está novamente debaixo de fogo devido a uma intervenção num bairro considerado problemático, no concelho do Seixal. Acusada de violência, a PSP garante que os seus elementos agiram em legítima defesa, tendo, porém anunciado a abertura de um inquérito ao sucedido. A plataforma SOS Racismo já fez saber que apresentará uma queixa ao Ministério Público.

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Patrícia Martins Carvalho
21/01/2019 09:20 ‧ 21/01/2019 por Patrícia Martins Carvalho

País

Seixal

A manhã de domingo não começou da melhor maneira para os agentes da esquadra de Cruz de Pau, nem para alguns dos moradores do Bairro da Jamaica, no concelho do Seixal.

Uma chamada telefónica para a central dava conta de uma desordem no referido bairro entre, essencialmente, mulheres. Nesta senda, tal como o Notícias ao Minuto noticiou ontem, foram destacados para o local os elementos do carro-patrulha da esquadra de Cruz de Pau, bem como a Equipa de Intervenção Rápida.

A PSP garante que os seus agentes não foram recebidos de forma amistosa, tendo sido, inclusive, alvo do arremesso de pedras por parte dos moradores que estariam envolvidos na desordem.

A atuação da polícia está a ser alvo de várias críticas depois de ter sido partilhado nas redes sociais um vídeo (que pode ver acima) que mostra os agentes da autoridade a agredir alguns elementos que se encontravam no local.

“O vídeo só mostra uma parte da intervenção, existe um antes, que é o apedrejamento aos elementos policiais”, garante ao Notícias ao Minuto o presidente do Sindicato Unificado de Polícia (SUP).

A mesma versão é difundida pelo Comando da PSP de Setúbal e corroborada pela Direção Nacional da PSP.

Chegados ao local [os agentes] depararam-se de facto com uma desordem entre mulheres, e ao procurar colocar-lhe termo foram alvo de apedrejamento por outros indivíduos do sexo masculino que ali se encontravamNo mesmo comunicado do Comando de Setúbal, a polícia explica a força física utilizada pelos agentes e que é visível no vídeo: “Os familiares e amigos do detido entraram também em confronto com o nosso pessoal, procurando evitar a sua detenção, o que obrigou a que tivéssemos de utilizar a força física e a efetuar três disparos de shotgun. Na saída do bairro as nossas viaturas foram alvo de apedrejamento resultando danos nas mesmas”.

O balanço da operação policial cifrou-se em dois polícias e um civil feridos, um detido e também numa polémica que já envolve, inclusive, políticos.

A deputada bloquista Joana Mortágua usou o Twitter para demonstrar o seu descontentamento para com a situação verificada, apelidando-a de “violência policial”.

“São quatro minutos de violência policial no bairro da Jamaica. Podem ir começando a pensar em desculpas mas não há explicação para isto. O Bloco vai exigir responsabilidades”, escreveu a deputada do Bloco de Esquerda.

Para o sindicalista Peixoto Rodrigues, trata-se de mais do mesmo. “Em cada intervenção da polícia em bairros problemáticos, somos logo apelidados de racistas”, lamenta em declarações ao Notícias ao Minuto, sublinhando que o “cumprimento da lei tem de ser para todos, independentemente da cor”.

Vídeo, a "parte que interessa aos desordeiros"

A celeuma estalou assim que as imagens começaram a circular nas redes sociais.

Para o comando da PSP de Setúbal, o vídeo em causa “apenas mostra a intervenção policial na parte que interessa aos desordeiros, não mostrando a parte inicial onde se poderia verificar o apedrejamento” de que os agentes da autoridade foram alvo e que levou à sua intervenção.

Quem também já reagiu foi a plataforma SOS Racismo que, num comunicado enviado à agência Lusa, afirmou que “só pode condenar veementemente a atuação da PSP e exigir naturalmente o apuramento das responsabilidades", razão pela qual vai apresentar uma queixa ao Ministério Público contra a atuação dos agentes em causa.

Por seu turno, no comunicado do comando de Setúbal, assinado pelo comandante distrital Manuel Viola Silva, fica claro o apoio aos elementos policiais envolvidos na polémica.

Através deste email mostro toda a minha solidariedade para com os elementos policiais da Divisão do Seixal, deste CD Setúbal, que participaram nesta difícil intervenção policial, e sobretudo para com o agente Tiago Andrade que foi alvo de uma pedrada na boca, desejando-lhe as rápidas melhoras

O superintendente admite ainda que existirão “queixas” contra a PSP e “contra alguns de vós individualmente”, mas garante que o seu apoio não faltará.

“Desde já vos digo que poderão contar com todo o meu apoio pessoal e institucional como vosso comandante distrital”, termina o comunicado. 

Intervenção policial alvo de "averiguação interna" e "ainda bem"

A Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública justificou a atuação dos seus agentes com o facto de o detido assim como outros elementos do bairro da Jamaica terem “reagido de forma violenta” à chegada da PSP com o “arremesso de vários objetos e de ações físicas agressivas” com o intuito de “impedir que a polícia exercesse a sua autoridade e consumasse a detenção”.

Não obstante, e como é da praxe em situações deste género, a “intervenção policial e todas as circunstâncias que a rodearam irão ser alvo de uma averiguação interna, tendo o diretor nacional da PSP determinado a instauração de um processo de inquérito que correrá os seus trâmites na Inspeção Nacional da Polícia de Segurança Pública, sem prejuízo de outras averiguações que venham a ser instauradas por outras entidades competentes”.

Esta decisão é, para Peixoto Rodrigues, não só “normal”, como “bem-vinda”.

"Concordo [com esta decisão] para que não fiquem dúvidas a ninguém sobre o que se passou”, rematou

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