Uma chamada telefónica para a central dava conta de uma desordem no referido bairro entre, essencialmente, mulheres. Nesta senda, tal como o Notícias ao Minuto noticiou ontem, foram destacados para o local os elementos do carro-patrulha da esquadra de Cruz de Pau, bem como a Equipa de Intervenção Rápida.
A PSP garante que os seus agentes não foram recebidos de forma amistosa, tendo sido, inclusive, alvo do arremesso de pedras por parte dos moradores que estariam envolvidos na desordem.
A atuação da polícia está a ser alvo de várias críticas depois de ter sido partilhado nas redes sociais um vídeo (que pode ver acima) que mostra os agentes da autoridade a agredir alguns elementos que se encontravam no local.
“O vídeo só mostra uma parte da intervenção, existe um antes, que é o apedrejamento aos elementos policiais”, garante ao Notícias ao Minuto o presidente do Sindicato Unificado de Polícia (SUP).
A mesma versão é difundida pelo Comando da PSP de Setúbal e corroborada pela Direção Nacional da PSP.
Chegados ao local [os agentes] depararam-se de facto com uma desordem entre mulheres, e ao procurar colocar-lhe termo foram alvo de apedrejamento por outros indivíduos do sexo masculino que ali se encontravamNo mesmo comunicado do Comando de Setúbal, a polícia explica a força física utilizada pelos agentes e que é visível no vídeo: “Os familiares e amigos do detido entraram também em confronto com o nosso pessoal, procurando evitar a sua detenção, o que obrigou a que tivéssemos de utilizar a força física e a efetuar três disparos de shotgun. Na saída do bairro as nossas viaturas foram alvo de apedrejamento resultando danos nas mesmas”.
O balanço da operação policial cifrou-se em dois polícias e um civil feridos, um detido e também numa polémica que já envolve, inclusive, políticos.
A deputada bloquista Joana Mortágua usou o Twitter para demonstrar o seu descontentamento para com a situação verificada, apelidando-a de “violência policial”.
“São quatro minutos de violência policial no bairro da Jamaica. Podem ir começando a pensar em desculpas mas não há explicação para isto. O Bloco vai exigir responsabilidades”, escreveu a deputada do Bloco de Esquerda.
São 4 minutos de violência policial no bairro da Jamaica. Podem ir começando a pensar em desculpas mas não há explicação para isto. O Bloco vai exigir responsabilidades. https://t.co/ktKGejA7NR
— Joana Mortágua (@JoanaMortagua) January 20, 2019
Para o sindicalista Peixoto Rodrigues, trata-se de mais do mesmo. “Em cada intervenção da polícia em bairros problemáticos, somos logo apelidados de racistas”, lamenta em declarações ao Notícias ao Minuto, sublinhando que o “cumprimento da lei tem de ser para todos, independentemente da cor”.
Vídeo, a "parte que interessa aos desordeiros"
A celeuma estalou assim que as imagens começaram a circular nas redes sociais.
Para o comando da PSP de Setúbal, o vídeo em causa “apenas mostra a intervenção policial na parte que interessa aos desordeiros, não mostrando a parte inicial onde se poderia verificar o apedrejamento” de que os agentes da autoridade foram alvo e que levou à sua intervenção.
Quem também já reagiu foi a plataforma SOS Racismo que, num comunicado enviado à agência Lusa, afirmou que “só pode condenar veementemente a atuação da PSP e exigir naturalmente o apuramento das responsabilidades", razão pela qual vai apresentar uma queixa ao Ministério Público contra a atuação dos agentes em causa.
Por seu turno, no comunicado do comando de Setúbal, assinado pelo comandante distrital Manuel Viola Silva, fica claro o apoio aos elementos policiais envolvidos na polémica.
Através deste email mostro toda a minha solidariedade para com os elementos policiais da Divisão do Seixal, deste CD Setúbal, que participaram nesta difícil intervenção policial, e sobretudo para com o agente Tiago Andrade que foi alvo de uma pedrada na boca, desejando-lhe as rápidas melhoras
O superintendente admite ainda que existirão “queixas” contra a PSP e “contra alguns de vós individualmente”, mas garante que o seu apoio não faltará.
“Desde já vos digo que poderão contar com todo o meu apoio pessoal e institucional como vosso comandante distrital”, termina o comunicado.
Intervenção policial alvo de "averiguação interna" e "ainda bem"
A Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública justificou a atuação dos seus agentes com o facto de o detido assim como outros elementos do bairro da Jamaica terem “reagido de forma violenta” à chegada da PSP com o “arremesso de vários objetos e de ações físicas agressivas” com o intuito de “impedir que a polícia exercesse a sua autoridade e consumasse a detenção”.
Não obstante, e como é da praxe em situações deste género, a “intervenção policial e todas as circunstâncias que a rodearam irão ser alvo de uma averiguação interna, tendo o diretor nacional da PSP determinado a instauração de um processo de inquérito que correrá os seus trâmites na Inspeção Nacional da Polícia de Segurança Pública, sem prejuízo de outras averiguações que venham a ser instauradas por outras entidades competentes”.
Esta decisão é, para Peixoto Rodrigues, não só “normal”, como “bem-vinda”.
"Concordo [com esta decisão] para que não fiquem dúvidas a ninguém sobre o que se passou”, rematou