O primeiro-ministro fará, esta tarde, uma declaração ao país, após reunir-se com o Presidente da República, e, horas antes, com membros do seu Governo, na sequência da crise causada com a aprovação pelo Parlamento da contabilização total do tempo de serviço dos professores.
Segundo fonte oficial do Executivo, a declaração ao país de António Costa será feita a partir da residência oficial do primeiro-ministro cerca das 17h00.
O que disse António Costa aos portugueses
Recorde-se que, ontem , o Parlamento aprovou uma alteração ao decreto do Governo, com os votos contra do PS e o apoio de todas as outras forças políticas, estipulando que o tempo de serviço a recuperar são os nove anos, quatro meses e dois dias reivindicados pelos sindicatos docentes.
Na sequência deste passo, o primeiro-ministro convocou para a manhã de hoje, com caráter de urgência, uma reunião extraordinária de coordenação política do Governo, encontro que decorreu na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento.
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Numa foto publicada na rede social Instagram, a meio da manhã, estavam presentes nessa reunião do chamado "núcleo duro" político do executivo, além de António Costa, os ministros das Finanças (Mário Centeno), da Presidência (Mariana Vieira da Silva), das Infraestruturas (Pedro Nuno Santos) e da Educação (Tiago Brandão Rodrigues), assim como o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (Duarte Cordeiro) e a secretária-geral adjunta do PS (Ana Catarina Mendes).
Após esta reunião do núcleo de coordenação política, o primeiro-ministro deslocou-se ao Palácio de Belém para reunir-se com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Do "teatro" à "fantochada", passando pelas 'duas caras' e "calculismo"
Enquanto Costa chamava reforços a São Bento, os partidos reagiam à 'crise política'. A líder do CDS, Assunção Cristas, falou aos jornalistas numa "fantochada" do Governo para se "vitimizar", mas lançou também um desafio ao Executivo para apresentar "uma moção de confiança".
Ainda à Direita, Rui Rio acusou o Governo de "mentir", defendendo que como a campanha para as eleições europeias "está a correr mal", o rumo foi tentar "um golpe de teatro".
No mesmo sentido foram as declarações de João Oliveira, do PCP, que considerou que "só o calculismo eleitoral pode justificar que o Governo utilize a reposição de um direito consagrado nos orçamentos do Estado de 2017 e 2018 como pretexto para abrir um clima de crise e tentar impor retrocessos".
Pelo Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares lembrou que "a posição do Bloco foi sempre coerente (...) curiosamente, quem tem duas posições nesta matéria é o PS", uma vez que "tem uma posição nos Açores ou na Madeira e tem outra posição em Portugal continental"
PS quer Presidente Marcelo ou Tribunal Constitucional a 'travar' norma
Ao longo da manhã foram vários os dirigentes socialistas que referiram à agência Lusa que as alterações ao decreto do Governo "colidem com a Constituição da República e implodem o Programa de Estabilidade (que passou no parlamento ainda no mês passado), já que podem representar um aumento de despesa anual na ordem dos 800 milhões de euros".
Como tal, esperam um veto político (ou um pedido de fiscalização sucessiva) do Presidente da República, caso PSD, CDS-PP, Bloco de Esquerda e PCP confirmem em votação final global estas alterações para a contabilização do tempo de serviço dos professores no período em que houve congelamento.
Em declarações aos jornais Expresso e Público, o líder do Grupo Parlamentar do PS, Carlos César, aludiu mesmo ao papel do Presidente da República neste diferendo, assim como à questão das dúvidas de ordem constitucional. "Espero que a mesma norma seja travada, desde o Presidente da República à própria fiscalização da constitucionalidade", disse.
Carlos César defendeu também que "aprovar o regime proposto para os professores implica adotar necessariamente o mesmo procedimento para as outras carreiras, o que quer dizer em termos de aumento de despesa não menos de 800 milhões de euros".
"Acho que uma decisão dessa natureza da direita, em conluio com o BE e o PCP, é absolutamente impensável, além de inconstitucional", acrescentou.