"A democracia portuguesa deu um grande passo em França ao considerar os portugueses que vivem no estrangeiro em pé de igualdade com os portugueses que vivem no país em termos de recenseamento, mas, por outro lado, impede os portugueses que vivem no estrangeiro de participar de forma igual nestas eleições europeias que dizem ainda mais respeito a quem vive em países espalhados pela Europa", defendeu Rui Barata, conselheiro das Comunidade Portuguesas e residente em Estrasburgo, em declarações à Agência Lusa.
Com voto presencial a decorrer durante os dias 25 e 26 de maio, França vai ter nestas europeias oito cidades onde será possível aos cidadãos portugueses votar: Paris (com cinco mesas de voto), Orleães, Tours, Bordéus, Lyon, Marselha, Estrasburgo e Toulouse.
No entanto, e com a dimensão da comunidade portuguesa, estes pontos podem não ser suficientes. "Temos muitas pessoas em Nantes, a 400 km de Paris, que só têm mesa de voto em Paris. Claro que não vêm votar", defendeu Luísa Semedo, conselheira das Comunidade Portuguesas e residente na capital francesa, em declarações à agência Lusa.
Rui Barata chama mesmo à distribuição das mesas em território francês "uma aberração", garantindo que os conselheiros mencionaram várias vezes o problema às autoridades portuguesas, nomeadamente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Luísa Semedo considera "não há meios financeiros" nem vontade para fazer as coisas de outra forma, dando como possibilidade o voto eletrónico ou voto por correspondência, como acontece nas legislativas.
Quanto à abstenção, em 2014, votaram em Paris menos de 1% das pessoas inscritas. Para estas eleições, as opiniões dividem-se.
"As pessoas, normalmente, receberam em casa uma carta a explicar as novas regras do recenseamento automático. Mas sabemos que muitas pessoas não receberam e as que receberam, algumas põem de lado. Mas espero que haja mais pessoas a votar até porque antes as pessoas pensavam que estavam inscritas, chegavam para votar e não estavam, porque pensavam que já era automático", indicou Luísa Semedo.
A conselheira lamentou a falta de campanha dos partidos políticos nacionais junto dos emigrantes.
Já Rui Barata queixou-se da falta de sensibilização por parte das autoridades portuguesas.
"Em Portugal, estas eleições já têm pouco interesse e não podemos esperar que os portugueses no estrangeiro votem mais do que em Portugal. Alertámos várias vezes o Governo e o Ministério dos Negócios Estrangeiros para a necessidade de haver uma real campanha de sensibilização e isso não aconteceu", disse o conselheiro.
Segundo dados do Ministério da Administração Interna, estão recenseados em França 380.957 eleitores, sendo a maioria na região de Paris (233.951).
Contactado pela Lusa, o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, anunciou que haverá 156 locais de voto em 70 países, um reforço de 20% face a 2014, mas admitiu que mesmo assim os emigrantes não se sintam satisfeitos. "Infelizmente não conseguimos criar no estrangeiro uma resposta tão próxima e qualificada como a que temos em território nacional", disse.