Azeredo Lopes está acusado dos crimes de denegação da justiça e prevaricação no processo de Tancos, avança o Diário de Notícias. De acordo com a publicação, a acusação refere que o ex-ministro da Defesa sabia que a Polícia Judiciária Militar (PJM) estava a "engendrar" o 'achamento' das armas, assim como que a "PJM estaria a trabalhar à revelia da investigação oficial da PJ".
Entretanto, o Observador dá conta de pormenores sobre este caso que, a comprovarem-se, podem ser ainda mais comprometedores para o ex-governante. Conta o jornal online que uma alegada troca de SMS entre Azeredo Lopes e o deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro será "uma das provas mais fortes" reunidas pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária contra o ex-ministro da Defesa.
Mais. Nessa alegada troca de SMS, que terá acontecido às 15h51 do dia 18 de outubro de 2017, segundo o Observador que transcreve as mensagens trocadas, o ex-governante refere: "Foi bom: pela primeira vez se recuperou [sic] armamento furtado. Eu sabia, mas tive de aguentar calado a porrada que levei. Mas, como é claro, não sabia que ia ser hoje”, terá escrito Azeredo Lopes.
Perante esta observação, o deputado socialista questiona: "Vens à AR [Assembleia da República] explicar?", ao que Azeredo responde: "Venho [sic] mas não poderei dizer o que te estou a contar. Ainda assim, foi uma bomba".
Saliente-se que, foi na manhã do dia 18 de outubro que a PJM, em comunicado, informou as redações da recuperação de grande parte do armamento roubado numa quinta na Chamusca, e após uma denúncia anónima. Uma operação que, referia o documento, teria contado com a colaboração do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.
O Notícias ao Minuto contactou o deputado Tiago Barbosa Ribeiro, que conhece o ex-ministro dos tempos de concelhia no PS/Porto, mas até ao momento sem sucesso.
O verão que afastou Azeredo do Governo
Quase três meses após a divulgação do furto das armas, em junho de 2017, a Polícia Judiciária Militar dava conta do aparecimento do material, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração com elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.
Acontece que o processo de recuperação do material militar levou a uma investigação judicial, por suspeitas de associação criminosa, tráfico de armas e terrorismo no furto do armamento e durante a qual foram detidos o agora ex-diretor da PJM, Luís Vieira, e o ex-porta-voz da PJM, Vasco Brazão, e três militares da GNR, num total de oito militares.
E em julho deste ano, Azeredo Lopes era suspeito de saber, desde o início, o plano da PJM para a recuperação do material de guerra roubado dos paióis de Tancos. De acordo com a revista Sábado, que teve à data acesso ao despacho do Ministério Público, os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) sustentam que, em agosto desse ano, dois meses antes do 'achamento', Azeredo Lopes teve uma reunião no Ministério da Defesa com o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, na qual foi informado - e deu o aval - do plano para a recuperação do material.
O ex-ministro acabou a ser constituído arguido - são 24 no total - do processo que investiga o furto de armas de guerra nos paióis de Tancos. Azeredo Lopes está, aliás, proibido de contactar com os outros arguidos e com o seu ex-chefe de gabinete e com o antigo chefe de Estado Maior do Exército, general Rovisco Duarte.
Tentativa de desviar atenções? Marcelo diz que não fala mais sobre Tancos
Ainda a propósito de Tancos, o Presidente da República afirmou na quarta-feira que não fala mais sobre o caso, quando questionado sobre um artigo do Expresso que lhe atribui a convicção de que há uma tentativa de desviar atenções do Governo.
No artigo em causa lê-se que "para o Presidente, apurou o Expresso, foi 'montada' uma tentativa de desviar para Belém as atenções de uma acusação judicial que tenderá a beliscar o Governo e a incomodar o PS em plena campanha eleitoral".
Questionado pelos jornalistas sobre se confirma o teor deste artigo, no final de uma visita a uma livraria de antiguidades em Nova Iorque, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu apenas: "Eu disse ontem [terça-feira] que não tencionava falar mais sobre o caso. Portanto, não vou falar no dia seguinte".
Interrogado, depois, sobre se existe algum mal-estar entre Presidente e Governo a propósito do caso de Tancos, o chefe de Estado deu a mesma resposta: "Mas eu acabei de dizer que não falava desse tema, ontem [terça-feira], não vou falar hoje".
Na terça-feira, em declarações às televisões, logo após a sua intervenção na 74.ª sessão da Assembleia Geral nas Nações Unidas, em Nova Iorque, o Presidente da República reiterou nunca ter sido informado, por qualquer meio, sobre o alegado encobrimento na recuperação das armas furtadas de Tancos, e sublinhou que "é bom que fique claro" que "não é criminoso".
"Nem através do Governo, nem através de ninguém no Parlamento, nem através das chefias militares, nem através de quaisquer entidades de investigação criminal, civil ou militar, nem através de elementos da minha equipa, da Casa Civil ou da Casa Militar, nem através de terceiros, não tive", declarou.
Marcelo Rebelo de Sousa reagiu assim a uma notícia da TVI de acordo com a qual o major da Polícia Judiciária Militar (PJM) Vasco Brazão se referiu, numa escuta telefónica, ao Presidente da República, como o "papagaio-mor do reino", que, segundo ele, sabia de tudo.