"Interferência do Governo seria coisa que jamais toleraria"

A diretora de informação da RTP, Maria Flor Pedroso, disse hoje no parlamento que o adiamento do programa 'Sexta às 9' não teve interferência do Governo, e justificou a mudança com a programação eleitoral.

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Lusa
03/12/2019 16:56 ‧ 03/12/2019 por Lusa

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Maria Flor Pedroso

"Eu trabalho em jornalismo há 26 anos. Isto são as chamadas pressões. O jornalismo político é um jornalismo em que nós somos pressionados constantemente por fontes várias. Interferência? Seria coisa que eu jamais toleraria. Eu e a equipa que dirijo", disse a jornalista da RTP em resposta ao deputado do PS José Magalhães, numa audição parlamentar na comissão de Cultura e Comunicação, em Lisboa.

O deputado socialista tinha pedido à diretora de informação da RTP para "clarificar" se tinha sofrido interferências por parte de alguém do Governo, algo que Maria Flor Pedroso disse poder até ser "quase insultuoso".

"Nenhum de nós tem algum currículo que possa alguém pensar que nós seríamos permeáveis a alguma interferência de seja de que governo for. Deste, de anteriores... Eu já passei por vários primeiros-ministros, por vários Presidentes da República, eu e a minha equipa, portanto seria intolerável que tal acontecesse", completou.

Maria Flor Pedroso reiterou que a emissão foi adiada por causa da cobertura jornalística da campanha eleitoral, dizendo que "a interrupção do programa não teve que ver com nenhuma notícia que o programa estivesse a investigar".

"A decisão prioritária que nós tomámos e que eu tomei foi de fazer uma cobertura das últimas legislativas de uma forma plena e até, por vezes, exaustiva", garantiu a diretora de informação da RTP.

Para isso, "foi preciso sacrificar alguns formatos", como por exemplo os programas 'Prós e Contras', 'Grande Entrevista', 'Tudo é Economia', duas emissões de 'Linha da Frente' e também o 'Sexta às 9'.

"Porquê? Porque na nossa programação o 'Sexta às 9' ficaria apenas com uma emissão possível durante o mês de setembro, e isto foi comunicado no dia 23 de agosto" a Sandra Felgueiras, coordenadora do programa, numa reunião que contou também com a presença de Cândida Pinto (diretora-adjunta), responsável da direção pelo programa.

A audição de Maria Flor Pedroso seguiu-se à da jornalista Sandra Felgueiras, que disse que "era possível" ter emitido o programa "Sexta às 9" em 13 de setembro com o tema do lítio.

"Se me perguntam diretamente se era possível fazer o programa 'Sexta às 9' durante o mês de setembro, a minha resposta é 'sim, era possível com o lítio'", disse Sandra Felgueiras.

Sobre interferências políticas, a jornalista da RTP que coordena o 'Sexta às 9' preferiu não comentar, dizendo que na sua intervenção se referiria apenas a factos e não a "interpretações ou motivações", cuja competência de esclarecimento atribuiu à direção de informação.

Em 30 de outubro, a RTP-TV esclareceu que a reportagem sobre o lítio só ficou pronta "horas antes" da sua divulgação, rejeitando a utilização deste caso como "arma de arremesso político-partidário".

"A Direção de Informação da RTP-TV jamais tolerará ser utilizada como arma de arremesso político-partidário seja por quem for", sublinha-se na nota assinada pela diretora de informação, Maria Flor Pedroso, e por todos os elementos da sua equipa.

A nota acrescenta que "a informação da RTP não guarda notícias na gaveta em caso algum".

A investigação em causa, emitida no âmbito do programa 'Sexta às 9' na RTP, contou com o depoimento do antigo presidente da Câmara do Porto, Nuno Cardoso, que disse ter avisado, em reunião, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, e o secretário de Estado João Galamba das alegadas ilegalidades decorrentes da concessão da exploração de lítio a uma empresa que tinha sido recentemente criada.

Dois dias após o encontro, João Galamba assinou o contrato para a construção da refinaria de lítio, um negócio, segundo a investigação de Sandra Felgueiras, avaliado em, pelo menos, 350 milhões de euros.

Paralelamente, o episódio do 'Sexta às 9' avançou ainda que o antigo secretário de Estado Jorge Costa Oliveira estava também ligado ao negócio, como consultor financeiro.

 

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