"Como em muitos outros países, os transportes são um desafio particular. Já se fez muito, mas há muito a fazer no caminho para a descarbonização", disse à imprensa Humberto Delgado Rosa, diretor na Direção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia, à margem de um debate em Lisboa sobre o Pacto Ecológico, hoje apresentado em Bruxelas pela presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.
O problema prende-se com "a dependência ainda muito grande de combustíveis fósseis", apesar de "muitos desenvolvimentos de métodos alternativos", "nomeadamente no contexto elétrico", explicou.
"Mas até imaginarmos uma aviação, um setor marítimo e um setor rodoviário completamente livres de carbono, há muita inovação, muita tecnologia e muito investimento que é necessário com certeza. Em Portugal e não só", afirmou.
Paula Abreu Marques, chefe de unidade na Direção-Geral de Energia, concordou que "o setor dos transportes é um dos setores que vai ter de responder, e muito, a todo este novo desafio", já que "é responsável por 30% do consumo de energia".
"Nos edifícios, outro tanto. Há todo um [esforço] de reinstalar ou de reformar, restaurar, edifícios, no sentido de maior eficiência" energética, prosseguiu Humberto Delgado Rosa, frisando, contudo, que "não falta atividade nessas e em muitas outras áreas".
Em Portugal, neste domínio, "trata-se de acelerar a taxa de reabilitação dos edifícios", tendo em conta o edificado existente "em que há muito para fazer", precisou Paula Abreu Marques.
Segundo a Comissão Europeia, os edifícios, designadamente devido ao aquecimento e caldeiras, são responsáveis por 40% do consumo total de energia da União Europeia, o que faz deles um dos principais responsáveis pelas emissões.
Em causa estão não apenas as habitações, mas edifícios públicos como hospitais, escolas e habitação social.
Humberto Delgado Rosa destacou em contrapartida como "muito interessante para Portugal" as medidas previstas no Pacto Ecológico em matéria de "restauração de uma floresta e de ecossistemas que sejam mais resilientes às alterações climáticas".
"Isso vai ser possível quer através da estratégia europeia para adaptação às alterações climáticas, que lá vem reforçada, quer da própria estratégia para a biodiversidade, a que se seguirá a estratégia florestal, e que através de uma restauração e recomposição dos ecossistemas de uma forma mais plena consegue-se uma situação no terreno diferente da que temos hoje", explicou.
No campo da energia, Paula Abreu Marques destacou "a estratégia de integração das renováveis".
"É uma estratégia muito ambiciosa que iremos apresentar em junho de 2020 para permitir a descarbonização do setor energético. Não só a eletricidade, que tem sido a mais bem sucedida, mas também ao nível do aquecimento e arrefecimento e sobretudo dos transportes", disse.
O Pacto Ecológico hoje apresentado fixa como objetivos a neutralidade carbónica da UE em 2050 e a redução para 50%, se possível 55%, dos gases com efeito estufa até 2030.
A neutralidade carbónica traduz-se num balanço nulo entre as emissões de gases com efeito estufa e a capacidade de as remover da atmosfera, por exemplo pelas florestas.
O pacto inclui 50 medidas transversais a todos os setores e visa, "reconciliar a economia com o planeta" com base num "novo modelo de crescimento", afirmou a presidente da Comissão Europeia na apresentação do plano.