"O difícil hoje é encontrar uma escola a funcionar", afirmou o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, em conferência de imprensa em frente ao Liceu Passos Manuel, em Lisboa, para fazer um primeiro balanço do impacto da greve nacional dos Trabalhadores da Função Pública.
Segundo Mário Nogueira, "as escolas encerradas no país inteiro são mais de 90%", uma taxa de adesão que se deve, em grande parte, aos trabalhadores não docentes. Entre os professores, a adesão deverá rondar entre 75% e 80%, segundo números avançados pela Fenprof.
"Já tínhamos o Dia das Cidades Sem Carros e agora temos também o Dia de Portugal Sem Aulas", ironizou Mário Nogueira, garantindo que o primeiro levantamento mostrou um país de escolas encerradas.
O secretário-geral da Fenprof garantiu que "de norte a sul, praticamente não há aulas", em parte graças à "força dos trabalhadores não docentes".
O principal motivo dos protestos agendados para hoje prende-se com a proposta de aumentos salariais de 0,3% avançada pelo governo, que para Mário Nogueira revela "prepotência e arrogância de um Governo que não respeita nada nem ninguém".
Os sindicatos recordam que os trabalhadores tiveram os salários congelados durante uma década, o que representou uma redução de rendimentos de cerca de 17%, exigindo agora um aumento de 90 euros mensais.
"O aumento de 90 euros não cobre os 133 euros necessários para repor o que perdemos desde 2009", salientou a coordenadora da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, da CGTP, Ana Avoila, também presente na conferência de imprensa.
Esta é a primeira greve nacional da função pública desde que o atual Governo tomou posse em outubro, e acontece a menos de uma semana da votação final global da proposta de Orçamento do Estado para 2020 (OE2020), marcada para 6 de fevereiro.
Para quatro dias depois está agendada uma reunião entre Governo e organizações sindicais para reiniciar o processo negocial, que acontece depois da votação do OE2020.
"Não tem nenhum sentido no plano da negociação que alguém marque uma reunião para quatro dias depois da decisão já estar tomada. Se se quer ser sério na negociação reúne-se antes e tenta-se chegar a consenso", criticou Mário Nogueira.
Além da revolta contra a proposta de aumento salarial de 0,3% feita pelo Governo, Mário Nogueira lembrou outras razões para o protesto de hoje tais como a continua precariedade das carreiras e o envelhecimento dos profissionais.
A anterior greve nacional da função pública que juntou as federações sindicais do setor da CGTP e da UGT realizou-se há cerca de um ano, em meados de fevereiro de 2019, contra a política salarial do executivo, e teve uma adesão superior a 80%, segundo os sindicatos.
Hoje, além da greve os sindicatos têm prevista uma manifestação em Lisboa, com início no Marques de Pombal e fim em frente à residência oficial do Primeiro Ministro a quem vão dizer que "não pode, não deve e não tem o direito de gozar com os trabalhadores", afirmou Mário Nogueira.