O antigo chefe Estado, Mário Soares, manifesta esta terça-feira, no DN, a sua indignação com aquilo que designa “de ideia peregrina do Presidente Cavaco Silva de excluir o Povo da cerimónia” do 5 de Outubro, considerando que “tudo correu mal”, desde a ausência do primeiro-ministro, passando pelo episódio da bandeira nacional, e terminando na intervenção de duas senhoras, uma a gritar por ter fome e outra a cantar.
Neste sentido, Mário Soares defende que “quando os governantes (…) manifestam medo do Povo (…) algo vai muito mal”.
Mas a marcar a semana passada ficou também, na opinião de Soares, a atitude do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que depois da “colossal e espontânea” manifestação do 15 de Setembro resolveu por o ministro das Finanças a anunciar, na Assembleia da República, um novo e “enorme” aumento de impostos em alternativa à Taxa Social Única (TSU). Uma atitude, diz Soares, reveladora de uma “falta de sensibilidade política e de vergonha”.
Perante este facto, o antigo Presidente da República critica o silêncio do líder do partido de coligação e ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que “tem andado pelo estrangeiro a fazer negócios (…) sem se ocupar da política interna e externa do Governo”. Por isso, acrescenta Soares, “por mais que Portas goste de ser ministro, não pode continuar a sê-lo sem perda total da sua dignidade e prestigio. Deve demitir-se o quanto antes”, defende.
Sobre a possibilidade de remodelação do Governo para fazer face aos maus resultados da coligação nas sondagens, Soares entende que “será o fim do desastre que desde o início está anunciado e não tem remédio” até porque, defende, “o medo mudou de campo, quando os políticos de hoje manifestam medo do Povo e fogem dele, sem vergonha”.
Mário Soares reitera ainda que “este Governo está moribundo e ninguém o toma a sério. Nem os empresários nem os trabalhadores. Nem gente do Povo, nem intelectuais, professores ou cientistas”.
Perante este cenário, Soares afasta a possibilidade de eleições antecipadas por considerar que este é um dos momentos em que as mesmas “não resolverão nada e podem antes complicar muito a situação”. Por isso é chegado o momento, afirma Soares, do Presidente da República deixar de fazer “discursos vazios” e ser “obrigado a tomar decisões”.