"É uma situação de asfixia da economia da ilha do Corvo, uma coisa impressionante. Os empresários queixam-se todos os dias que assim não conseguem trabalhar. Alguns já dizem que vão fechar", afirmou hoje o deputado único do partido na assembleia regional, Paulo Estêvão, eleito pela ilha do Corvo, em conferência de imprensa em Ponta Delgada.
A passagem do furacão Lorenzo pelos Açores em outubro de 2019 provocou a destruição do porto das Lajes das Flores, responsável pelo abastecimento às ilhas do grupo ocidental do arquipélago.
No caso do Corvo, o Governo Regional contratou a embarcação Lusitânia (da empresa Barcos do Pico) que deveria abastecer a ilha semanalmente vindo diretamente do Faial (sem passagem pelas Flores).
Devido a condições meteorológicas adversas, o barco não tem conseguido realizar a travessia, tendo o último abastecimento via marítima sido feito a 12 de fevereiro.
O deputado monárquico pede ao Governo dos Açores que frete outro navio que apresente "condições" para realizar o abastecimento à ilha mais pequena do arquipélago.
"[A situação] Não tem nada de complexidade. A complexidade é essa: é fretar um navio que tenha as condições que lhe permita fazer a travessia com regularidade entre o Faial e a ilha do Corvo. Tal como já sucede, a proposta até foi minha, com o abastecimento à ilha das Flores", afirmou.
Entre Dezembro de 2019 e Janeiro de 2020, a ilha das Flores ficou perto de um mês sem abastecimento devido ao estado do tempo, tendo a situação ficado solucionada após o Governo Regional ter fretado um outro navio, o "Malena", que tem conseguido realizar o abastecimento semanal à ilha.
"Há uma enorme revolta por parte da população. Uma enorme revolta no sentido de se sentirem completamente abandonados pelo Governo. Ainda por cima nós estamos a ver a como se está a fazer em relação à ilha vizinha [Flores]", afirmou Estêvão, referindo-se à revolta dos corvinos.
Em nota de imprensa, o Governo açoriano informou hoje que o "Lusitânia" se encontra a aguardar a melhoria do estado do mar para realizar a ligação, tendo anunciado que durante o dia de hoje o abastecimento à ilha do Corvo foi realizado por via área, tendo sido transportados 2.500 quilos de mercadoria diversa, situação "insignificante" para Paulo Estêvão.
"Tudo o que é o transporte de algumas centenas de quilos é absolutamente insignificante para as necessidades da ilha. A verdade é que se continua a enfrentar esta situação como fosse uma situação de urgência. Já se passaram cinco meses [desde a passagem do furacão]", criticou.
O deputado regional disse ainda que irá solicitar reuniões com os grupos parlamentares da Assembleia da República para dar nota que o "dinheiro enviado" para os Açores para fazer face aos prejuízos provocados pelo Lorenzo "não está a chegar ao Corvo".
"Uma verba muito significativa foi transferida ao abrigo da solidariedade nacional e é preciso dizer que esse dinheiro da solidariedade nacional chega aos Açores mas depois não existe solidariedade dentro da região", destacou.
Durante a passagem do Lorenzo pelos Açores foram registadas 255 ocorrências e 53 pessoas tiveram de ser realojadas, num total de cerca de 330 milhões de euros de prejuízo, sendo 85% deste valor assumido pelo Governo nacional.