Como é que as famílias estão em casa e se estão acompanhadas e estáveis, bem como saber o que reserva o futuro "num cenário em que o desconhecimento sobre a doença impera", ou preocupações e desabafos relacionados com a culpabilidade por eventual transmissão da doença, têm sido as abordagens mais frequentes dos doentes infetados que estão a ser acompanhados no CHUSJ, disse, esta manhã, aos jornalistas, o diretor de serviço de psicologia do Hospital de São João, Eduardo Carqueja.
"Querem saber se as pessoas estão estáveis em casa também. A dimensão da família é muito importante. Manifestam dúvida sobre o que lhes vai acontecer. E há doentes que manifestam uma culpabilidade por terem transmitido [o vírus] a familiares e amigos. O que temos transmitido é que a culpa é do vírus. Pode ter existido, eventualmente, alguma irresponsabilidade das pessoas, mas cabe-nos explicar e normalizar. O que está a acontecer é decorrente de uma situação extraordinária e desconhecida", explicou Eduardo Carqueja.
A atual equipa de nove psicólogos foi constituída e está a trabalhar desde o início desta semana, podendo vir a ser reforçada se tal for considerado necessário.
De acordo com Eduardo Carqueja, pelo memos 20 doentes já solicitaram ou autorizaram intervenção psicológica, a qual é prestada por telefone para evitar usar recursos que possam vir a ser necessários em outro nível de intervenção, bem como para limitar o contacto ao estritamente necessário.
O serviço de psicologia do CHUSJ tem atualmente 28 psicólogos e está a trabalhar em conjunto com o serviço de infecciologia, tendo sido criado um protocolo específico de intervenção psicológica dedicada ao surto de Covid-19, que já foi declarado como pandemia pela Organização Mundial de Saúde.
Eduardo Carqueja acrescentou que a equipa inclui psicólogos da área da pediatria, bem como da área de infecciologias.
"Não há casos diagnosticados na área da pediatria, mas se vier a registar-se estaremos preparados quer para acompanhar psicologicamente a criança quer os pais", garantiu o diretor do serviço de psicologia do CHUSJ.
Quanto à forma como estão a ser levados a cabo os telefonemas para acompanhamento psicológico a infetados e familiares, o psicólogo do Hospital de São João afirmou que o protocolo que está a ser seguido "é breve", mas frisou que a equipa estará "disponível o tempo que o doente considere necessário".
"Estamos disponíveis para qualquer situação ou necessidade. Tivemos sessões de 20 minutos ou meia hora e sessões que ultrapassaram uma hora. Tudo depende da disponibilidade do doente no momento. O doente conduz o telefonema. Isso é para nós um ponto de honra", sublinhou.
Esta intervenção inclui a distribuição de material informativo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, a qual tem como título "Covid-19, como lidar com uma situação de isolamento".
Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), dos 1.308 casos suspeitos, 172 aguardam resultado laboratorial.
Há ainda 5.674 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde.
O boletim de hoje indica que há 11 cadeias de transmissão ativas, quase o dobro das registadas na quinta-feira.
Dos 112 casos confirmados de Covid-19 em Portugal, 107 estão internados.
Entre os doentes internados estão os casos de um menino com menos de 10 anos e de 15 jovens entre os 10 e os 19 anos.
Existem dois casos de doentes infetados internados acima dos 80 anos e seis entre os 70 e os 79.
Em todo o mundo já foram infetadas mais de 131.000 pessoas e morreram mais de 4.900.
Em Portugal, o Governo decretou na quinta-feira o estado de alerta, colocando os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.